O Partido Social-Democrata dinamarquês, da primeira-ministra Mette Frederiksen, sofreu grandes perdas, nesta terça-feira, nas eleições autárquicas e locais. Entre elas, conta-se o controlo da câmara da capital, que, pela primeira vez num século, deixou de estar nas mãos dos sociais-democratas.
O partido de centro-esquerda continua a ser o mais votado em todo o país, mas com perdas a registar: dos 28,4% dos votos das últimas autárquicas, em 2021, passou para 23,2%, menos cinco pontos percentuais.
Foi uma prenda envenenada para a primeira-ministra — e logo na véspera do seu aniversário —, que não escondeu a desilusão nem se esquivou à responsabilidade. “Esperávamos perdas, mas isto parece ser maior do que esperámos”, afirmou, perante os eleitores do partido, num evento em Copenhaga. “Isso, obviamente, não é satisfatório”, disse. “Vamos ter de avaliar o que pode estar detrás.”
Frederiksen ensaiou algumas explicações possíveis — o aumento do custo de vida e da habitação, e diferenças muito marcadas entre os eleitores rurais e urbanos —, mas os analistas acrescentam-lhe outras, como o discurso mais duro que tem adoptado em matéria de imigração (falando, por exemplo, em crimes cometidos por “pessoas de fora”), o que provocou uma sensação de fadiga junto do eleitorado. Estas eleições, apesar de locais, foram vistas como um referendo às políticas polémicas da primeira-ministra.
Em todo o país, o apoio ao partido de extrema-direita, o Dansk Folkeparti (Partido Popular dinamarquês), aumentou de 4,09% para 5,9%.
Copenhaga foi um dos grandes reveses da noite para o partido. Pela primeira vez em 122 anos, a cidade não vai ser liderada por um social-democrata. E não só não a ganharam como ficaram em terceiro lugar, atrás de dois partidos de esquerda.
Vai ser Sisse Marie Welling, candidata da Esquerda Verde (nome internacional, em dinamarquês o partido ainda usa a denominação Partido Popular Socialista), o segundo partido mais votado desta corrida, a autarca de Copenhaga. A Aliança Vermelha e Verde, que junta vários partidos comunistas e socialistas, conseguiu a maior fatia dos votos na capital, 22,1% (e 15 assentos no Conselho Municipal), e decidiu apoiá-la, depois de várias horas de discussões.
Não foi a vitória por larga margem que se antecipava, mas Welling afirmou aos jornalistas que vai liderar uma “maioria verde e progressista” e não hesitou ao descrever a eleição como “um capítulo da história”.
Já a candidata apoiada pelos sociais-democratas, Pernille Rosenkrantz-Theil, não escondeu a desilusão: “Fiz o que pude.” A amiga e primeira escolha da primeira-ministra disse aos jornalistas que foi “completamente impossível” conseguir o lugar que almejava. “Perdemos Copenhaga.”
É um golpe simbólico para a primeira-ministra, que além da capital perdeu outros redutos do partido, como Frederikshavn, onde o apoio caiu para metade do que era nas últimas eleições. É a segunda vez desde as eleições legislativas de 2022 que o Partido Social-Democrata perde votos.
“É uma grande derrota para o partido perder tantos bastiões, incluindo Copenhaga”, afirma Peter Thisted Dinesen, professor de Ciência Política na Universidade de Copenhaga, ao The Guardian. “É improvável que ameace Frederiksen enquanto primeira-ministra, mas vai alimentar análises e discussões sobre as causas.”