Os Estados Unidos sinalizaram ao Presidente Volodymyr Zelensky que a Ucrânia terá de aceitar um quadro, redigido por Washington, para pôr fim à guerra com a Rússia, que prevê que Kiev abdique de território e de algumas armas, disseram esta quarta-feira à Reuters duas fontes com conhecimento directo do assunto.

As fontes, que pediram anonimato devido à sensibilidade do tema, afirmaram que as propostas incluem a redução do efectivo das Forças Armadas ucranianas, entre outros pontos. Washington pretende que Kiev aceite os princípios essenciais, disseram.

Um plano deste tipo representaria um grave revés para a Ucrânia, num momento em que a Rússia continua a avançar territorialmente no Leste do país e Zelensky enfrenta um escândalo de corrupção no seu Governo.

A Casa Branca recusou comentar o assunto. O Departamento de Estado dos EUA também não fez qualquer comentário imediato.

Um alto responsável ucraniano disse à Reuters que Kiev recebeu “sinais” sobre um conjunto de propostas norte-americanas para terminar a guerra, discutidas por Washington com Moscovo. A Ucrânia não teve qualquer papel na preparação dessas propostas, afirmou a mesma fonte.


Zelensky, que esta quarta-feira manteve conversações na Turquia com o Presidente Recep Tayyip Erdogan, deverá reunir-se esta quinta-feira, em Kiev, com responsáveis militares dos EUA.

Os sinais de um novo esforço da Administração Trump para pôr fim ao conflito provocaram, esta quarta-feira, a maior subida em meses do preço das obrigações soberanas da Ucrânia.

Não ocorreram conversações presenciais entre Kiev e Moscovo desde uma reunião em Istambul, em Julho, e as forças russas prosseguem a guerra, que já dura há quase quatro anos, tendo matado 25 pessoas em ataques durante a última madrugada.

Rússia inflexível

Os esforços para reactivar as negociações de paz parecem ganhar impulso, embora Moscovo não mostre qualquer sinal de mudar as suas condições para pôr fim à guerra.

O Presidente russo, Vladimir Putin, exige há muito que Kiev abandone os planos de aderir à NATO, liderada pelos EUA, e retire as suas tropas das quatro províncias que Moscovo reivindica como parte da Rússia. Não há qualquer indicação de que o Kremlin tenha recuado nessas exigências, e a Ucrânia afirma que não as aceitará.

As forças russas controlam cerca de 19% do território ucraniano e continuam a avançar, enquanto realizam ataques frequentes contra a infra-estrutura energética ucraniana à medida que o Inverno se aproxima.

Zelenskiy afirmou esta terça-feira que estava a preparar-se para “revigorar as negociações” e discutir com Erdogan formas de alcançar uma “paz justa” para a Ucrânia.

“Fazer tudo o que for possível para aproximar o fim da guerra é a principal prioridade da Ucrânia”, afirmou.

A Turquia, membro da NATO que tem mantido relações próximas tanto com Kiev como com Moscovo, acolheu uma primeira ronda de conversações de paz nas semanas iniciais da guerra, em 2022 — as únicas até este ano, quando Trump lançou uma nova tentativa de pôr termo aos combates.

O Kremlin afirmou que representantes russos não participariam nas conversações desta quarta-feira em Ancara, mas que Putin está aberto a discutir com os Estados Unidos e a Turquia os resultados dessas reuniões.

Esta quarta-feira, o site Axios noticiou, citando um responsável norte-americano com conhecimento directo do tema, que o novo plano dos EUA prevê que a Ucrânia conceda à Rússia parte do Leste ucraniano que actualmente não controla, em troca de uma garantia de segurança norte-americana para Kiev e para a Europa contra futuras agressões russas.

Um diplomata europeu, ao comentar as alegadas novas propostas dos EUA, afirmou que estas poderiam ser mais uma tentativa da Administração Trump de “encurralar Kiev”, mas acrescentou que não poderia haver qualquer solução que não considerasse a posição da Ucrânia ou a dos aliados europeus de Washington.

Outro diplomata europeu disse que a sugestão de que a Ucrânia reduza o seu exército parece mais uma exigência russa do que uma proposta séria.

Uma delegação norte-americana liderada pelo secretário do Exército, Dan Driscoll, encontra-se em Kiev numa “missão de recolha de informação”, informou a embaixada dos EUA na capital ucraniana. O chefe do Estado-Maior do Exército, general Randy George, também integra a delegação, e ambos se reunirão com Zelensky esta quinta-feira, disse à Reuters uma fonte familiarizada com o plano. Reuters