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  • Estudo investiga a evolução do beijo entre primatas, incluindo humanos e ancestrais como os Neandertais.
  • Pesquisadores utilizam análise filogenética e modelagem estatística para estimar que o beijo pode ter surgido entre 21,5 e 16,9 milhões de anos atrás.
  • O beijo é considerado um comportamento arriscado, com riscos de transmissão de doenças e sem benefícios reprodutivos claros, embora tenha múltiplos usos sociais.
  • O fenômeno não é universal, documentado em apenas 46% das culturas humanas, e suas origens evolutivas ainda precisam ser mais bem compreendidas.

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Segundo pesquisadores, o beijo é “tanto biológico quanto cultural” Pexels/Pixabay

Um novo estudo que examina como o beijo evoluiu sugere que ancestrais de grandes macacos e humanos primitivos, como os Neandertais, provavelmente uniram os lábios com seus amigos e parceiros sexuais. O comportamento pode datar de 21 milhões de anos.

Os beijos mais antigos da humanidade foram registrados há 4.500 anos na Mesopotâmia e no Antigo Egito, mas Matilda Brindle, principal autora da pesquisa e bióloga evolutiva do Departamento de Biologia de Oxford, disse que o beijo apresenta um “enigma evolutivo”.

Parece acarretar altos riscos, como a transmissão de doenças, ao mesmo tempo que não oferece nenhuma vantagem reprodutiva ou de sobrevivência óbvia, disse ela.

“O beijo é uma dessas coisas que estávamos realmente interessados em entender”, disse Brindle, que estuda o comportamento sexual em primatas, à CNN Internacional. “É generalizado entre os animais, o que dá uma pista de que pode ser um traço evoluído.”

O beijo, que a equipe definiu como contato boca a boca não agressivo e que não envolve comida, não é algo que pode ser detectado no registro fóssil, então Brindle e seus colegas usaram uma abordagem diferente.

A partir da literatura científica existente, os pesquisadores coletaram informações sobre quais espécies modernas de primatas foram observadas beijando; estas incluíam chimpanzés, bonobos, orangotangos e uma espécie de gorila.

A equipe então executou uma análise filogenética, que permite aos cientistas inferir informações sobre traços em espécies extintas com base em dados comportamentais de animais vivos. Isso envolve a reconstrução de uma árvore ou mapa de como as diferentes espécies de primatas estão relacionadas com base em informações genéticas, explicou Brindle.

“Com essa informação, podemos viajar de volta no tempo”, disse ela.

Beijos pré-históricos

A equipe utilizou modelagem estatística para simular diferentes cenários evolutivos ao longo dos ramos da árvore para estimar a probabilidade de que diferentes ancestrais de grandes macacos beijassem.

Por exemplo, ela disse que chimpanzés, bonobos e humanos todos se beijam, então é provável que o último ancestral compartilhado de todas essas espécies também o fizesse. Para fornecer estimativas robustas, o modelo foi executado 10 milhões de vezes.

Os resultados, publicados na quarta-feira (19) no periódico Evolution and Human Behavior, sugeriram que o beijo é um traço antigo nos grandes macacos, evoluindo em um ancestral desse grupo entre 21,5 milhões e 16,9 milhões de anos atrás.

Isso significa que parentes humanos extintos, como os Neandertais, provavelmente também se envolveram em beijos. Também é possível — já que os cientistas sabem que nossa espécie, Homo sapiens, intercruzou com os Neandertais — que humanos e Neandertais se beijaram, observou o estudo.

No entanto, o modelo não revela por que ou como o beijo evoluiu, disse Brindle, observando que existem múltiplos usos, incluindo avaliar potenciais parceiros, preliminares, criação de laços, mitigação da tensão social e mastigação de alimentos antes de dá-los à prole.

Ela acrescentou que há dados limitados sobre o beijo em animais fora das espécies de grandes macacos, tornando difícil reconstruir como o traço pode ter se desenvolvido ao longo do tempo.

Além do mais, grande parte das informações veio de animais vivendo em cativeiro ou santuários. Dados adicionais sobre o beijo em diferentes espécies são necessários, disse ela.

“O que fizemos, que é um primeiro passo realmente importante, é mostrar que é um traço evoluído”, disse Brindle. “É realmente antigo. Mas por quê? E esse é o próximo passo incrível se as pessoas quiserem assumir o encargo.”

O beijo não é um comportamento universal na sociedade humana, observaram os pesquisadores no novo estudo. Ele está documentado em apenas 46% das culturas, de acordo com um artigo de 2015.

“Nós encontramos um forte sinal evolutivo no beijo, mas isso não significa que ele tenha que ser retido”, explicou Brindle.

Para algumas populações, acrescentou, o beijo pode não ser um bom encaixe: “Os primatas são espécies extremamente flexíveis, muito inteligentes, e então o beijo pode ser útil em alguns contextos, mas não em outros. E se não for útil, é bastante arriscado com alto potencial de transferência de doenças.”

O beijo é mais do que apenas um toque “boca-a-boca”, e o estudo realmente não lança muita luz sobre por que os humanos beijam da maneira que o fazem, disse Adriano Reis e Lameira, psicólogo evolutivo e primatólogo da University of Warwick (Universidade de Warwick), que não esteve envolvido no trabalho.

“A grande maioria dos beijos que os humanos dão não são boca-a-boca”, disse ele por e-mail.

O estudo estabelece futuras pesquisas em humanos e outros primatas para explorar diferenças mais sutis no comportamento de beijar, incluindo perguntas sobre quem se escolhe beijar e como, disse Justin Garcia, biólogo evolutivo e diretor executivo do The Kinsey Institute (Instituto Kinsey), um centro de pesquisa focado no estudo da sexualidade e relacionamentos.

Garcia, que também é o autor de “The Intimate Animal: The Science of Love, Fidelity and Connection” (“O Animal Íntimo: A Ciência do Amor, Fidelidade e Conexão”), não participou da nova análise.

“O beijo é tanto biológico quanto cultural, é um comportamento que invoca os sentidos corporais e claramente tem algumas origens evolutivas, mas também sabemos que varia entre indivíduos e populações”, disse Garcia em um e-mail.

“Este é um exemplo maravilhoso da interação entre natureza e criação, inclusive para um comportamento que muitos de nós, humanos, consideramos tão profundamente íntimo.”