Filmes ambientados no mundo do cinema podem render reflexões interessantes, sobretudo com Noah Baumbach (diretor), Emily Mortimer (corroteirista com ele) e George Clooney, personagem-título de “Jay Kelly”. O início soa promissor, com um plano-sequência que percorre os agitados bastidores dos instantes finais de uma filmagem estrelada por Jay Kelly, famoso ator hollywoodiano. Antes de emendar mais um trabalho, ele entra em crise existencial. O reencontro com um ex-amigo de juventude (Billy Crudup), que o culpa pelo fracasso de sua carreira artística, permite que ele reflita sobre as consequências de suas escolhas.

Kelly percebe que o tempo passou e não deu a devida atenção às filhas, já crescidas. Então cancela o novo projeto e aceita ser homenageado com um tributo num pequeno festival na Toscana. Vai além: decide surpreender a filha viajando de trem na segunda classe, uma maneira de voltar a experimentar a sensação do que é ser uma pessoa “normal”.

Até dá pra acreditar em George Clooney todo simpático com a galera no trem, mas achar que ninguém vai sacar o celular pra registrar a presença ilustre ou pedir uma selfie já é demais. Enfim, a verossimilhança é apenas um entre os muitos problemas que o filme enfrenta.

“Jay Kelly” poderia ser um “Memórias”, de Woody Allen, sem a neurose, misturado com elementos de “Noite americana”, de Truffaut. Mas consegue ser apenas um ligeiro passatempo Netflix que descamba no sentimentalismo — os fãs de Clooney provavelmente não se incomodarão.

Cotação: Bonequinho dorme.