Na madrugada de 27 de julho de 1997, os disparos na discoteca Faraó, em Torres Vedras, provocaram o pânico. Mais tarde, nesse dia, veio a descobrir-se que a confusão, que terá sido provocada por um desentendimento entre dois grupos, tinha resultado na morte de dois jovens: Walter Bastos, filho do cantor angolano Waldemar Bastos, e Hugo Estrela.
Apesar da tragédia que marcou os restantes anos de uma das mais emblemáticas discotecas da região, o espaço continuou a funcionar, mas há quem diga que nunca conseguiu recuperar o ambiente de outrora. Em 2013, fechou portas e apesar de ter reaberto algumas vezes nos anos seguintes, encerrou definitivamente em 2022.
Hoje, o espaço está em ruínas. No entanto, parece que foi deixado repentinamente — ainda há copos e garrafas abertas em cima das mesas. A fachada, por sua vez, está conservada, com exceção de alguns grafitis feitos nas paredes.
Vasco Alves, um filmmaker de 23 anos que se dedica ao urbex (exploração urbana, em inglês) visitou o espaço em outubro e encontrou um cenário digno de filme. No início deste mês, partilhou um vídeo no Instagram que conseguiu, até aora, mais de 2,6 milhões de visualizações.
“À chegada achámos muito engraçado o tema egípcio, com a pirâmide e os leões faraónicos à entrada”, começa por contar à NiT. “Apesar de as portas estarem todas seladas e soldadas, a entrada acabou por ser fácil”. Vasco e os amigos decidiram explorar a discoteca por ser um local “bastante popular”, tanto para os residentes da região como para os exploradores de urbex.
Nos anos em que esteve em funcionamento, a discoteca chegou a receber vários artistas nacionais e internacionais, sobretudo DJs que já tinham participado em grandes festivais, como o Tomorrowland, ou tocado em grandes festas em cidades como Dubai e Ibiza.
Agora, o espaço está parado no tempo. “Havia cadeiras viradas para uma mesa com garrafas e copos ainda com líquido, uma bola de espelhos pendurada e muita areia no chão, misturada com jarros partidos, tudo a combinar com o tema do Egito”, aponta Vasco, natural de Cascais.
Em 2016, voltou a abrir no verão mas fechou pouco tempo depois. A última reabertura aconteceu em abril 2022 e nesta altura, os preços chegavam aos 350€ para quatro entradas, com três garrafas incluídas e uma localização privilegiada: ao lado do DJ.
Para quem preferisse ficar na pista de dança, o valor para entrar rondava os 10€ por pessoa. A própria discoteca disponibilizava um autocarro gratuito para os visitantes irem e virem do centro da cidade. O transporte funcionava entre a uma e as sete da manhã.
O encerramento oficial da discoteca, que terá acontecido no verão de 2022, não chegou a ser comunicado pelo espaço, que recorria às redes sociais para partilhar as novidades. Até à data, não se sabe, ao certo, o que terá causado o fecho.
“Gostei muito do espaço e do conceito, dava para ver que devia ser uma discoteca incrível na altura”, frisa à NiT o jovem. “Infelizmente, pelo que eu sei, deixou de ser a mesma depois de um tiroteio que aconteceu lá dentro.”
Leia também o artigo da NiT sobre a “maior discoteca abandonada da Galiza.”
Carregue na galeria para ver algumas fotografias do espaço abandonado em Torres Vedras.