A Google reforçou o seu serviço de pesquisa de voos com uma nova funcionalidade baseada em inteligência artificial (IA), apresentando-se como um concorrente direto a plataformas estabelecidas como o Skyscanner. Este lançamento, no entanto, ocorre num momento delicado para a gigante tecnológica, que enfrenta acusações de abuso de posição dominante na Europa.
Como funciona a nova pesquisa de voos por IA da Google
Para quem gosta de organizar as suas próprias férias, o Skyscanner tem sido, durante anos, o ponto de partida para encontrar os melhores voos. Contudo, a Google acaba de lançar um concorrente de peso que promete mudar as regras do jogo. A nova ferramenta, denominada “Ofertas de voos” (Flight Deals), está integrada no já conhecido serviço Google Flights.
Ao aceder à plataforma, um aviso desafia o utilizador: “Tem flexibilidade? Descubra as melhores ofertas de voos com a IA”.
A partir daí, é encaminhado para uma nova interface de pesquisa. Em vez dos tradicionais campos de origem, destino e datas, o utilizador depara-se com uma única caixa de texto, onde pode realizar pesquisas utilizando linguagem natural.
Por exemplo, é possível pedir sugestões de “destinos económicos com boa gastronomia para uma escapadela no início do ano”. Adicionalmente, a pesquisa pode ser refinada com filtros como o número de passageiros, a classe de voo ou a preferência por voos diretos.
Uma ferramenta promissora, mas com arestas por limar
Esta abordagem é particularmente útil para viajantes que têm dias livres, mas ainda não decidiram o destino. Em vez de pesquisar individualmente cada cidade, basta fornecer os critérios principais e deixar que a IA faça o trabalho.
No entanto, a ferramenta ainda tem margem para melhorias. Em alguns testes, demonstrou dificuldades em interpretar corretamente intervalos de datas específicos, sugerindo voos fora do período solicitado.
Em comparação, o Skyscanner já permite selecionar “qualquer lugar” como destino e filtrar os resultados por preço, obtendo resultados semelhantes. A vantagem da Google reside na capacidade de realizar uma pesquisa que é, simultaneamente, flexível e mais específica. Enquanto o Skyscanner obriga à seleção de datas exatas ou à exploração de um mês completo, a ferramenta da Google permite pedidos mais abertos e contextuais.
O historial da Google e a questão do monopólio
A incursão da Google em novos nichos de mercado não é uma novidade. A estratégia da empresa tem passado por integrar cada vez mais funcionalidades no seu motor de pesquisa, oferecendo ferramentas de pesquisa e comparação que, muitas vezes, ameaçam a sustentabilidade de outros negócios.
Um dos casos mais recentes e mediáticos é a integração da AI Overview nos resultados de pesquisa, que tem diminuído drasticamente a visibilidade dos meios de comunicação que alimentam essa mesma IA. O resultado traduziu-se em quedas de tráfego de até 50% para alguns sites.
Se recuarmos no tempo, encontramos exemplos semelhantes. No início dos anos 2000, existiam inúmeros sites para conversão de moeda ou unidades, mas a sua utilidade diminuiu quando a Google integrou essas funções diretamente no seu motor de pesquisa.
Casos como a proeminência dada ao Google Shopping nos resultados, em detrimento de outros comparadores de preços, resultaram mesmo em multas pesadas. A União Europeia sancionou a empresa em 2,4 mil milhões de dólares por abuso de posição dominante, um processo que também levou ao pagamento de 465 milhões de euros à Idealo, uma das plataformas prejudicadas.
O lançamento de “Ofertas de voos” surge num momento particularmente sensível. A Google está a ser investigada num novo processo antimonopólio na União Europeia, desta vez focado no setor das viagens online. A acusação é de que a empresa favorece injustamente os seus próprios serviços, como o Google Flights e o Google Hotels, nos resultados de pesquisa. A potencial multa pode atingir até 10% das suas receitas anuais globais.
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