A vacina contra o HPV é considerada uma das mais eficazes medidas de prevenção em saúde pública, mas ainda enfrenta resistência entre famílias e adolescentes. Segundo o Dr. Martim Elviro, médico da família e professor do curso de Medicina da Faculdade Santa Marcelina, essa resistência está ligada principalmente à desinformação e a tabus culturais. “Muitos pais ainda associam a vacinação à iniciação precoce da vida sexual dos adolescentes, quando, na realidade, trata-se de uma medida preventiva para proteger contra vírus altamente perigosos. Além disso, circulam mitos sobre efeitos colaterais graves, o que não se confirma nos estudos clínicos”, diz. 

O Papilomavírus Humano (HPV) é um dos vírus sexualmente transmissíveis mais comuns do mundo e está associado a cerca de 620 mil novos casos de câncer em mulheres e 70 mil em homens por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o câncer do colo do útero, doença diretamente ligada ao HPV, é responsável por mais de 16 mil novos casos e aproximadamente 6 mil mortes anuais. Apesar disso, crenças equivocadas dificultam a adesão, como a ideia de que apenas meninas precisam se vacinar, o medo de efeitos colaterais graves e a percepção de que o HPV não representa risco relevante. 

De acordo com o Dr. Elviro, os benefícios da vacina são amplamente comprovados. A imunização protege contra os principais tipos de HPV responsáveis pela maioria dos cânceres de colo do útero, vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe, além de prevenir verrugas genitais. Quando aplicada ainda na adolescência, reduz em até 86% o risco de câncer cervical nas mulheres vacinadas antes dos 20 anos, segundo estudos internacionais. “Estamos falando de uma vacina que salva vidas. Em países com alta cobertura, como Austrália e Reino Unido, já se observa queda expressiva nos casos de câncer de colo do útero. Isso mostra o impacto concreto que podemos alcançar também no Brasil se aumentarmos a adesão”, reforça o médico. 

Mesmo oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, a cobertura vacinal no Brasil ainda está aquém do ideal. Em 2019, apenas 49,6% dos adolescentes estavam totalmente vacinados, enquanto países vizinhos como México e Peru superam 90% de adesão. Para o especialista, o desafio é de comunicação. “Médicos, escolas e famílias precisam caminhar juntos para derrubar mitos e mostrar que a vacina não é uma escolha sobre o presente, mas um cuidado com o futuro da saúde dos nossos jovens.” 

 

Ele destaca que a confiança nasce do diálogo claro e acessível. Quando a escola promove palestras educativas, quando o médico apresenta dados embasados e quando a família participa ativamente, o adolescente compreende que a vacina não é apenas uma injeção a mais, mas um investimento em qualidade de vida. A experiência internacional reforça essa visão: regiões com alta cobertura vacinal já registram reduções expressivas nos casos e mortes por câncer relacionados ao HPV, enquanto locais com baixa adesão ainda convivem com altas taxas de infecção e sobrecarga nos sistemas de saúde. 

Para o Dr. Martim Elviro, a mensagem é clara: a vacina contra o HPV é segura, eficaz e fundamental para salvar vidas. A resistência, ainda presente, precisa ser enfrentada com informação, diálogo e campanhas de conscientização que unam médicos, escolas e famílias em prol da saúde das novas gerações.