No debate que opôs Henrique Gouveia e Melo e João Cotrim de Figueiredo, nesta quinta-feira, a independência (ou a falta dela) foi protagonista. De um lado, o almirante na reserva insistiu que a sua candidatura é “suprapartidária”. Do outro, o antigo líder da Iniciativa Liberal, declarando-se a “vacina contra o pessimismo”, argumentou que o passado partidário não é “cadastro”.
João Cotrim Figueiredo abriu o debate a defender que saberá “resistir a todas as pressões”. “A independência não se proclama, observa-se e pratica-se”, apontou.
Na sua estreia em debates pré-eleitorais, Gouveia e Melo retorquiu que a sua candidatura é “suprapartidária” e a que melhor poderá responder aos problemas dos portugueses, dando-lhes “segurança, estabilidade e desenvolvimento”. “Não estou limitado ao espectro político no encontro de soluções”, frisou, sinalizando que a sua “independência” lhe permite ser “mais exigente”. E dirigindo-se ao adversário, acusou-o de ter “um conjunto de ligações anteriores” que o condicionam. Por isso, frisou: “João Cotrim Figueiredo não vai conseguir ser independente” porque quererá levar para Belém “conceitos ideológicos” de que é promotor.
O antigo líder da IL defendeu-se, sinalizando que todos os chefes de Estado tinham ligações a partidos. “Foram todos dependentes”, perguntou, sublinhando que a sua candidatura tem uma “abrangência” que vai além da IL e questionando se ter passado partidário é “cadastro”. Dizendo que a independência também se vê nas estruturas das candidaturas, Cotrim Figueiredo lembrou que Gouveia e Melo tem como mandatário Rui Rio, ex-líder do PSD, e tem “responsáveis pela máquina de propaganda de José Sócrates” na estrutura.
Gouveia e Melo foi depois questionado sobre as suas eventuais ligações à maçonaria, já que um grupo de maçons rapidamente lhe declarou apoio. “Eu não sou maçon”, sublinhou, dizendo que a maçonaria está espalhada em toda a sociedade e que ninguém pode garantir que não há um maçon “nesta sala”. Cotrim de Figueiredo também disse não pertencer à maçonaria: avental só “na cozinha”, gracejou.
Escutas a Costa são “graves”
No dia em que o DN avançou que o Departamento Central de Investigação e Acção Penal terá omitido escutas a António Costa, os dois candidatos a Belém consideraram o caso “muito grave” e pediram que sejam dadas explicações adicionais.
Já sobre a TAP, Cotrim Figueiredo insistiu na privatização, enquanto Gouveia e Melo defendeu que deve existir uma companhia que garanta os interesses do país e o hub de Lisboa, embora admita a privatização.
Passando para o tema da revisão da lei laboral e da greve geral, Cotrim Figueiredo disse esperar que um acordo seja possível e considerou que o ante-projecto do executivo é “favorável” tanto a trabalhadores como às empresas. Por isso, não teve dificuldade em assumir que promulgaria a lei. Já o almirante na reserva, defendendo a necessidade de flexibilizar o mercado, considerou que é preciso “cuidado” para não atacar direitos dos trabalhadores. “Não tenho a certeza” se promulgaria, assinalou.
Sobre Defesa e a possibilidade de militares portugueses serem destacados para combater a Rússia, Cotrim disse que os compromissos com a NATO devem ser respeitados, mas notou que não lhe “parece” que os militares portugueses sejam chamados. O antigo chefe do Estado Maior da Armada defendeu que a “vocação” de Portugal deve ser o Atlântico e não o Leste.
A fechar o debate, Gouveia e Melo foi desafiado a dizer qual foi a maior mentira que ouviu sobre si desde o anúncio da candidatura a Belém. Que um ex-militar é um “perigo para a democracia”, respondeu. Já Cotrim disse que a maior mentira foi uma ouvida no debate desta quinta-feira: a de que “não era independente”, apontou, descrevendo-se como a “verdadeira vacina contra o pessimismo e o medo do futuro”.