A morte de um bezerro diagnosticado com raiva, no município de Ortigueira, reacendeu o alerta das autoridades sanitárias e do setor pecuário para o avanço da doença no Paraná. A raiva, considerada uma das zoonoses mais perigosas, ameaça a saúde pública e provoca impactos diretos na economia agropecuária, levando o estado a intensificar ações de vigilância e prevenção.
Segundo Rafael Gonçalves Dias, chefe do Departamento de Saúde Animal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), o vírus é transmitido por morcegos hematófagos e é letal tanto para animais quanto para humanos. “A presença da doença no estado é recorrente. Em 2024, tivemos 258 casos em herbívoros. Em 2025, mais de 400 investigações já foram abertas, com 218 confirmações até agora”, conta.
A transmissão ocorre quando o morcego morde o animal para se alimentar de sangue e inocula o vírus. A partir daí, o contágio pode alcançar outros animais e também pessoas que tenham contato com indivíduos doentes.
Vacinação é a única proteção eficaz
A vacina antirrábica segue como principal ferramenta para prevenir a doença. Dias reforça que ela é barata, pode ser aplicada pelo próprio produtor e deve ser feita anualmente. “A vacinação precisa ser preventiva. Após o aparecimento dos sinais clínicos, não há mais o que fazer”, alerta.
Pela portaria nº 368/2025 da Adapar, 30 municípios do Paraná têm vacinação obrigatória em herbívoros domésticos a partir de três meses de idade — incluindo bovinos, búfalos, equinos, muares, ovinos e caprinos. Entre eles estão Cascavel, Foz do Iguaçu, Medianeira, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Quedas do Iguaçu, Realeza e outros da região Oeste e Sudoeste.
A agência destaca, porém, que produtores de outras regiões também devem adotar a imunização, mesmo sem obrigatoriedade formal.
O Paraná é pioneiro no uso de técnica molecular para diagnóstico rápido de raiva em herbívoros. O Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti, da Adapar, é o primeiro laboratório da Rede Nacional de Agricultura a empregar essa tecnologia. “Antes, o resultado levava dias. Agora, conseguimos confirmar casos em menos de 24 horas”, afirma Dias.
Além da agilidade, o sucesso no controle depende da atenção dos pecuaristas aos sinais clínicos. Entre os sintomas estão isolamento, andar cambaleante, perda de apetite, paralisias e salivação abundante. Qualquer suspeita deve ser comunicada imediatamente à Adapar.
A raiva impacta toda a cadeia produtiva, gerando prejuízos em exportações, produção e abastecimento interno. Por isso, a prevenção no campo é vista como a principal barreira contra surtos.