Alerta da Organização Mundial da Saúde: A gonorreia está cada vez mais resistente a antibióticosAlerta da Organização Mundial da Saúde: A gonorreia está cada vez mais resistente a antibióticos

A gonorreia, uma infeção sexualmente transmissível, está a tornar-se cada vez mais resistente a antibióticos, indicam novos dados do Programa Ampliado de Vigilância Antimicrobiana da Gonorreia, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O relatório, que monitora a disseminação da gonorreia resistente a medicamentos, destaca a necessidade de fortalecer a vigilância, melhorar a capacidade de diagnóstico e garantir o acesso equitativo a novos tratamentos para infeções sexualmente transmissíveis (IST).

Dados de 2023 do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças também indicam um forte crescimento de casos de gonorreia resistente a medicamentos nos países da União Europeia, incluindo em Portugal.

A divulgação dos novos dados coincide com a Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana (RAM), o que reforça a importância da ação global contra infeções resistentes a medicamentos. O Programa Ampliado de Vigilância Antimicrobiana da Gonorreia foi lançado pela OMS em 2015, para recolher dados laboratoriais e clínicos de locais sentinela em todo o mundo para monitorar a Resistência Antimicrobiana e orientar as diretrizes de tratamento.

“Este esforço global é essencial para rastrear, prevenir e responder à gonorreia resistente a medicamentos e para proteger a saúde pública em todo o mundo”, disse a Tereza Kasaeva, Diretora do Departamento de HIV, Tuberculose, Hepatite e infeções sexualmente transmissíveis da OMS.

Em face da situação indicada no relatório “a OMS apela a todos os países para que abordem os níveis crescentes de infeções sexualmente transmissíveis e integrem a vigilância da gonorreia nos programas nacionais de infeções sexualmente transmissíveis.”

Os dados da OMS indicam que entre 2022 e 2024, a resistência à ceftriaxona e à cefixima, os principais antibióticos usados ​​para tratar a gonorreia, aumentou drasticamente de 0,8% para 5% e de 1,7% para 11%, respetivamente, com estirpes resistentes detetadas em mais países. A resistência à azitromicina permaneceu estável em 4%, enquanto a resistência à ciprofloxacina atingiu 95%. O Camboja e Vietnam registaram as maiores taxas de resistência.

Em 2024, 12 países de cinco regiões da OMS forneceram dados que mostram um aumento em relação aos apenas quatro países em 2022. O que mostra o crescente compromisso em rastrear e conter infeções resistentes a medicamentos em países e regiões. Os países como o Brasil, Camboja, Índia, Indonésia, Malawi, Filipinas, Catar, África do Sul, Suécia, Tailândia, Uganda e Vietnam relataram 3.615 casos de gonorreia.

Mais da metade de todos os casos de gonorreia sintomática em homens, ou seja, 52%, foram relatados em países da Região do Pacífico Ocidental da OMS, incluindo Filipinas com 28%, Vietnam com 12%, Camboja com 9% e Indonésia com 3%. Os países da Região Africana da OMS representaram 28% dos casos, seguidos pelos países da Região do Sudeste Asiático com 13%, Tailândia, da Região do Mediterrâneo Oriental com 4%, Catar, e da Região das Américas 2%, no Brasil.

A idade mediana dos pacientes foi de 27 anos. Entre os casos, 20% eram homens que fazem sexo com homens e 42% relataram múltiplos parceiros sexuais nos últimos 30 dias. Oito por cento relataram uso recente de antibióticos e 19% haviam viajado recentemente.

Fortalecimento e expansão da vigilância global

Em 2024, a OMS avançou na vigilância genómica, com quase 3.000 amostras sequenciadas provenientes de oito países. Estudos marcantes sobre novos tratamentos, como zoliflodacina e gepotidacina, bem como estudos sobre resistência à tetraciclina, foram conduzidos pelo Centro Colaborador da OMS sobre Resistência Antimicrobiana em DST na Suécia, em coordenação com a OMS. Esses estudos estão a ajudar a orientar as futuras estratégias de controlo da gonorreia e de prevenção baseada em doxiciclina (DoxyPEP).

Em 2024, o relatório da OMS continuou a expandir seu alcance, com a adesão do Brasil, da Costa do Marfim e do Catar ao programa, e a Índia iniciando a implementação e a recolha de dados a partir de 2025, no âmbito do seu Programa Nacional de Controle da SIDA e de Doenças Sexualmente Transmissíveis.

A OMS indicou que apesar dos progressos notáveis, o relatório enfrenta desafios, incluindo financiamento limitado, relatórios incompletos e lacunas nos dados relativos a mulheres e locais extragenitais. Em face da situação a OMS está a fazer um apelo a investimentos urgentes, particularmente em sistemas nacionais de vigilância, para sustentar e expandir a vigilância global da resistência antimicrobiana à gonorreia.

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