O primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana defendeu hoje em Bruxelas que a “única maneira possível” de acabar com o conflito israelo-palestiniano é aceitar a solução dos dois Estados, apelando a uma “recuperação real” de Gaza que implique o povo palestiniano.
“Não pedimos mais do que a possibilidade de aguentar-nos de pé e dar às nossas crianças um futuro livre de medo (…), vamos construir o Estado da Palestina como parte de uma região pacífica, só precisamos de segurança e de esforços coletivos, para que nenhuma criança acredita que a devastação é a normalidade”, disse Mohammad Mustafá.
Numa conferência de imprensa conjunta com a comissária europeia para o Mediterrâneo, Dubravka Suica, no âmbito da reunião inaugural do Grupo de Doadores para a Palestina, que hoje decorreu em Bruxelas, Mohammad Mustafa afirmou que a solução dos dois Estados (Palestina e Israel) “não é um conceito abstrato”, mas sim “é a única maneira possível de acabar com este conflito”.
O conflito israelo-palestiniano começou há quase oito décadas e está a atravessar o momento mais sangrento dos últimos anos, depois de dois anos de uma ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza.
A guerra em Gaza foi desencadeada pelos ataques a Israel, liderados pelo grupo radical Hamas em 07 de outubro de 2023, que causaram cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.
A retaliação de Israel provocou mais de 69 mil mortos no enclave palestiniano controlado pelo Hamas desde 2007, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Desde o passado dia 10 de outubro está em vigor um cessar-fogo que foi impulsionado pelos Estados Unidos.
Na mesma conferência de imprensa, Mohammad Mustafa disse que a Autoridade Palestiniana, presidida por Mahmud Abbas e que governa partes da Cisjordânia, “implementou as mudanças necessárias, antes do esperado, apesar das dificuldades”, reiterando os apelos de apoio para a concretização do Estado da Palestina.
Mustafa afirmou, porém, que a liderança palestiniana pouco mais pode fazer neste momento “quando estão a ser negadas as receitas” da Autoridade Palestiniana por parte de Israel, “simplesmente por razões políticas”.
A comissária europeia para o Mediterrâneo, Dubravka Suica, também abordou este tópico, defendendo ser necessário “exigir a Israel que desbloqueie estas receitas, que já são na ordem dos três, quatro mil milhões de euros”.
Também afirmou que é necessário “criar uma economia resiliente” para a Palestina e “condições efetivas” para o Estado palestiniano.
A comissária sustentou que a criação deste Estado, numa altura em que cada vez mais nações reconhecem a existência da Palestina, só é possível com um “papel real e decisivo” da população palestiniana “na criação do seu futuro, na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e também Gaza”.
A reunião inicial deste grupo de países doadores para a Palestina, que contou com “mais de 60 delegações”, “foi um sucesso”, referiu a representante europeia.
“Senhor primeiro-ministro, não está sozinho neste esforço”, prometeu a comissária europeia.
A União Europeia (UE) é o maior doador de ajuda aos palestinianos, mas a maior parte dos seus desembolsos para a Autoridade Palestiniana estão dependentes dos progressos do órgão dirigente palestiniano em matéria de reformas económicas e de governação.
Por exemplo, em abril passado, a UE anunciou um pacote de ajuda financeira no valor de 1,6 mil milhões de euros para apoiar a Autoridade Palestiniana e financiar projetos na Cisjordânia, em Jerusalém e na Faixa de Gaza.