A intensificação de fenómenos extremos, como ventos fortes, aumento de dias de precipitação intensa, ondas de calor e o risco elevado de incêndios florestais são os principais desafios climáticos para a Ascendi. “O PRC posiciona a Ascendi como um agente ativo na transição climática, num setor determinante para o desenvolvimento e a segurança do país”, disse Sandra Rafael, secretário-geral do IDAD, durante a apresentação do Plano de Resiliência Climática (PRC), esta quinta-feira, no auditório da Fundação de Serralves, no Porto.

Com base num trabalho de dois anos em conjunto com o IDAD, o PRC tem três grandes objetivos: diagnosticar em detalhe os impactos das alterações climáticas nas infraestruturas rodoviárias da Ascendi; identificar e implementar medidas de adaptação e sustentabilidade das infraestruturas; e dotar a organização de uma estratégia e capacidades institucionais para liderar a resiliência climática no setor. “Este plano é real, não é de fantasia. Levamos isto muito a sério”, disse o diretor-executivo da empresa, Luís Silva Santos, no encerramento da sessão de apresentação do programa.

“Vivemos um tempo de grandes desafios. As alterações climáticas são hoje uma realidade inegável, com impactos cada vez mais visíveis nas nossas vidas, nas comunidades e, naturalmente, nas infraestruturas que gerimos”, comentou o diretor de operações da Ascendi, Bernardo Serafim. “Somos players de um setor vulnerável às alterações climáticas, o que reforça a urgência de antecipar, inovar e agir com determinação”, acrescentou.

A7 e A11 em zona de risco de incêndio e inundação

O risco de incêndio rural, segundo a avaliação do PRC, mantém-se elevado na Costa de Prata, tendo aumentado na Beira Litoral, de 12 para 16 (crítico), e de sete para 10 (crítico), na concessão Norte (CN), no Pinhal Interior e na Grande Lisboa. Ao nível de inundações, a CN subiu de nível dois, risco baixo, para dez, crítico, sendo a única das autoestradas da Ascendi nesta categoria; todas as outras são de risco baixo. “Se repararam, a Concessão Norte está numa zona de risco elevado de incêndio rural e de inundação”, observou Sandra Rafael. Com 179 quilómetros, compõe-se nas Autoestradas 11, entre Esposende a Penafiel, e A7, de liga Póvoa de Varzim a Vila Pouca de Aguiar. Passa por zonas fortemente industrializadas, como Santo Tirso ou Guimarães, mas também por áreas rurais e florestais.

A ameaça de ventos fortes não teve alterações significativas, mas é elevada, especialmente “num quadro climático bastante agressivo” como o atual, nas palavras de Helena Freitas, diretora do Parque de Serralves. “A resiliência climática é estratégica para qualquer empresa”, acrescentou a bióloga e professora catedrática da Universidade de Coimbra.

“O plano de resiliência climática é um dos pilares da nossa estratégia”, sublinhou Sílvia Guerra, diretora de Sustentabilidade da Ascendi, que apresentou nove medidas para responder aos desafios climáticos. Para fazer face aos riscos de inundação, a empresa prioriza a monitorização dos sistemas de drenagem, com tecnologia que permite acompanhar os níveis de água em tempo real, reforçando também a inspeção e manutenção nos pontos com maior risco de chuva intensa. Frente ao fogo, além do envio automático de alertas diários de risco de incêndio, permitindo ajustar o planeamento das operações, a empresa identifica o risco de quedas de árvores e investe na limpeza das vias, criando faixas de gestão de combustível de 10 metros.

“A aposta é numa gestão integrada da vegetação“, resumiu João Lindo da Cunha, responsável por esta área na Ascendi. “O controlo da flora de forma natural tornará as nossas autoestradas menos vulneráveis às alterações climáticas”, acrescentou, em defesa da recuperação da floresta autóctone para combater as invasoras, que “vão proliferar mais” no atual quadro climático, alertou.

O uso de materiais resilientes e resistentes a temperaturas elevadas é também prioritário para a Ascendi, que gere 800 quilómetros de autoestradas em França, Espanha e Portugal. A empresa aposta em planos de manutenção ajustados, considerando os riscos climáticos e a segurança das equipas, com horários adaptados ao calor extremo, e na avaliação contínua das vulnerabilidades aos riscos climáticos.

Outra das áreas de ação da empresa fica a montante: A Descarbonização, com um programa de substituição da iluminação existente por sistemas LED. “O objetivo é reduzir para metade o consumo da iluminação pública nos nós urbanos, onde é obrigatório estar iluminado durante a noite”, especificou Pedro Teixeira, Gestor de Energia na Ascendi. “Em 2025 conseguiremos uma redução de 30% do consumo elétrico face ao que era em 2019”, acrescentou.

O recurso a fontes de eletricidade renovável e transição para veículos elétricos ou de baixas emissões nas atividades de operação e manutenção permitiram à empresa fazer 1,2 milhões de quilómetros, em 2024, com emissão zero de carbono. “Em 2025 vão ser mais”, acrescentou Pedro Teixeira.

Vias mais seguras, menos acidentes

As medidas visam dotar a empresa de maior capacidade de resistência às alterações climáticas, proporcionando também melhores condições de segurança aos utilizadores. “Não há serviço de qualidade sem segurança”, disse João Neves, responsável pela Segurança Rodoviária da Ascendi. “O objetivo é ter vias mais seguras, com menos acidentes e menos feridos”, acrescentou.

As condições climáticas têm forte influência na segurança rodoviária“, disse João Neves, lembrando que a chuva, as cheias e os incêndios influenciam a condução. Com um plano de redução de vítimas de acidentes de 5% ao ano, o responsável pela Segurança Rodoviária da Ascendi exemplificou duas medidas simples que podem ajudar a diminuir a sinistralidade: o uso de bandas amovíveis, colocadas na estrada perto de zonas de perigo ou acidentes, e radares móveis de deteção e amostragem da velocidade em tempo real aos condutores. “Testes mostram uma redução de 20% da velocidade média, que pode ser importante para evitar acidentes”, sublinhou.

José Ribeiro, segundo comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, sublinhou a necessidade de cooperação entre empresas e instituições na mitigação dos riscos e na prevenção. “Não temos grande literacia para o risco em Portugal“, disse, quando em comparação com países que viveram a II Guerra Mundial ou a Guerra Fria. A postura mais relaxada é ameaçada num contexto de “terreno é fértil para notícias falsas“, acrescentou.