Maina Talia, o ministro do Interior, Mudanças Climáticas e Ambiente de Tuvalu, convidou aqueles que negam as alterações climáticas a mudarem-se para o seu país e viverem a realidade de um Estado onde 60% do território está sob ameaça de ficar submerso até 2050.

“Para nós, [a mudança climática] é uma realidade vivida. E se alguém disser que não acredita nas alterações climáticas, eu convidá-lo-ia a vir ficar comigo em Tuvalu e ver quão corajoso consegue ser perante essa realidade”, disse Maina Talia, sem nomear directamente o Presidente norte-americano, Donald Trump, que classificou as mudanças climáticas como “a maior farsa” do mundo.

O ministro, que falava a jornalistas portugueses em Belém, no Brasil, num evento à margem da 30.ª cimeira do clima das Nações Unidas (COP30), a decorrer na cidade amazónica até sexta-feira, explicou que o país onde vive tem apenas 26 quilómetros quadrados de terra, pouco mais de dois metros de altitude (sem montanhas nem rios) e que nele vivem cerca de 10 mil pessoas.

O arquipélago tem testemunhado mudanças nos padrões climáticos, mas não só: “O mar está a borbulhar do subsolo e também a entrar pelos lados – e como não há para onde subir, torna tudo ainda mais difícil”, disse Maina Talia.“A maior parte das ilhas de Tuvalu são apenas tiras de terra. A grande questão é: quanto tempo temos até termos de nos realocar?”

De acordo com as previsões, Tuvalu será o primeiro país a ficar submerso, o que poderá acontecer daqui a 50 anos, se nada for feito para alterar o rumo actual, mas Maina Talia diz que o país continuará a lutar, com a coragem do povo e com a combatividade dos políticos.

O governante tuvaluano lamentou que os Estados Unidos tenham abandonado pela segunda vez o Acordo de Paris, mas manifestou gratidão pelo resto do mundo se manter unido: “A decisão de um só país não se compara ao esforço do mundo inteiro.”

Prometeu “lutar até ao fim” e continuar a responsabilizar os países poluidores para travar as alterações climáticas que ameaçam fazer submergir o arquipélago.

Ministro lamenta postura do Ocidente

“O que nós, como políticos, estamos a fazer é lutar até ao fim”, afirmou Maina Talia. “Queremos continuar a responsabilizar os países, porque o nosso contributo para a questão das alterações climáticas é de 0,00001%, e no entanto estamos a sofrer o custo dos países emissores. É muito injusto e inaceitável.”

Maina Talia reconheceu que combater as alterações climáticas implica desafiar modos de vida, ao pedir a eliminação dos combustíveis fósseis, mas considerou tratar-se de uma obrigação moral.

“As alterações climáticas devem ser encaradas sob uma lente moral. Sabemos o que fazer e quais as soluções e mesmo assim, tudo se resume a política, economia e acumulação de riqueza”, lamentou Maina Talia. “Para nós, é sobrevivência; para o Ocidente, é economia.”


Sobre a COP30, prevista para terminar esta sexta-feira em Belém – capital do estado brasileiro do Pará e porta de entrada na Amazónia -, Maina Talia elogiou a organização brasileira pela inclusão dos povos indígenas e pela protecção das florestas, mas reconheceu que o processo das Nações Unidas “é sempre o mesmo: complexo e difícil de navegar”.

Lamentou também que a escolha do anfitrião da próxima cimeira do clima, em 2026, tenha recaído na Turquia e não na Austrália, que também concorria para acolher a COP31, o que teria um valor simbólico por levar as discussões do clima para o Pacífico.

“O lado positivo é que a Austrália terá a presidência das negociações (…), a pré-COP [reunião prévia à cimeira do clima] será no Pacífico. Isso é muito importante para nós”, afirmou, defendendo que o tema da próxima COP deve mesmo ser o oceano e antecipando que, com a Austrália a liderar as negociações, o Pacífico terá espaço pôr o tema na agenda.