O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou esta sexta-feira para “um dos momentos mais difíceis e de maior pressão” da história da Ucrânia, à medida que os Estados Unidos aumentam a pressão sobre Kiev para pôr fim à guerra. Trump considera que 27 de novembro é um prazo “adequado” para a Ucrânia aceitar o seu plano
Num discurso de 10 minutos, gravado para assinalar o feriado ucraniano, o Dia da Dignidade e da Liberdade, Zelensky explicou à nação que a Ucrânia enfrenta “escolhas muito difíceis” face à proposta de Donald Trump recebida na quinta-feira: aceitar os 28 pontos ou enfrentar “um inverno muito difícil”. “Pode vir a enfrentar uma escolha muito difícil: ou a perda da dignidade, ou risco de perder um parceiro fundamental” declarou Zelensky, referindo-se aos EUA.
Zelensky recusa-se a trair a nação
O líder ucraniano afirmou que os aliados de Kiev, em particular Washington, esperam uma resposta em breve e relembrou o juramento que fez de proteção da Constituição ucraniana como o seu princípio orientador: “Nunca o trairei. O interesse nacional ucraniano deve ser levado em consideração”, declarou.
Volodymyr Zelensky afirmou o seu compromisso em buscar “soluções construtivas” e apresentar “argumentos, convencer e oferecer alternativas”. Segundo ele, as autoridades ucranianas vão trabalhar durante o fim de semana e nas próxima semana, “o tempo que for necessário”, para melhorar o plano dos EUA.
O principal objetivo do esforço ucraniano será que “entre todos os pontos, pelo menos dois não sejam esquecidos: a dignidade e a liberdade dos ucranianos”. “Porque tudo o resto se baseia nisso – a nossa soberania, a nossa
independência, a nossa terra, o nosso povo. E o futuro da Ucrânia”, argumentou.
Ucrânia é “o único escudo” que protege os europeus
No seu discurso o presidente ucraniano também realçou o apoio que Kiev está a receber dos aliados europeus. Segundo ele, os europeus sabem que “a Rússia não está longe (…) e que a Ucrânia é o único escudo que separa a confortável vida europeia dos planos de Putin”.
“Faremos e temos de fazer tudo para que, no final, haja o fim da guerra e não haja o fim da Ucrânia, o fim da Europa e da paz global”
Quase três após o início da invasão russa, Zelensky disse apreciar os elogios dirigidos à luta da nação ucraniana, mas recordou que o seu povo está sob um pressão inimaginável, à medida que Moscovo prossegue com os seus ataques diários: “É claro que somos feitos de aço. Mas qualquer metal, mesmo o mais forte, pode não resistir a (tudo) isso”.
Como é habitual, o líder ucraniano terminou com a saudação “glória à Ucrânia”.
“Opções diplomáticas disponíveis”
Após uma chamada com Zelensky, Ursula von der Leyen e
António Costa anunciaram esta tarde que os líderes europeu vão reunir-se no sábado, à margem de uma reunião do
G20 em Joanesburgo, na África do Sul, para discutir a situação da
Ucrânia.
“Falámos com o presidente Zelenksy.
Discutimos a situação atual e estamos certos de que nada deve ser
decidido sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, afirmaram Costa e von der Leyen
num comunicado divulgado no dia X.
O presidente ucraniano também afirmou ter conversado com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, sobre as “opções diplomáticas disponíveis” para pôr fim à guerra com a Rússia.
“Discutimos as opções diplomáticas disponíveis e o plano proposto pelo lado americano”, escreveu no X. “Estamos prontos para trabalhar de forma rápida e construtiva para garantir o seu sucesso. Estamos a coordenar os nossos próximos passos conjuntos.”
Putin ameaça conquistar mais território
Entretanto, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que o plano de paz dos EUA pode ser a base para a paz e ameaçou conquistar mais território se a Ucrânia recusar o plano.
O presidente americano quer que a Ucrânia assine o plano de paz com a Rússia antes de quinta-feira, Dia de Ação de Graças, segundo o jornal Washington Post. “Se tudo correr bem, os prazos podem ser alargados. Mas quinta-feira é o
dia que consideramos apropriado”, confirmou Donald Trump esta tarde à Fox Radio.
Caso Kiev não aceite o plano dos EUA, Trump ameaça retirar o apoio à Ucrânia, uma vez que considera que forças ucranianas já estão a “perder território”, num conflito que descreveu como “fora de controlo, um massacre”.
Inspirado no plano para a Faixa de Gaza, o plano de 28 pontos coloca em causa algumas das linhas vermelhas de Zelensky, como a cedência de território ucraniano
a Moscovo.
c/agências