Luís Marques Mendes disse recentemente o seguinte: “Gouveia Melo, sempre que fala, tem uma certa tendência para três coisas: ou para dizer alguns disparates, ou para entrar em contradições, ou para gerar polémicas”. Não lhe pergunto se concorda, naturalmente. Mas acredita que Henrique Gouveia e Melo tem conseguido explicar bem o seu pensamento sobre o país?
Acredito que sim. Se as pessoas estiverem atentas, bastante atentas, àquilo que ele diz, há uma linha de coerência. Aquilo que o almirante Gouveia e Melo não tem, que outros têm, e a alguns que até lhes sobra, é aquela pequena tática política do momento. Gouveia e Melo não tem manha ou ronha e expressa-se de uma forma mais genuína. Isso exige, naturalmente, da parte de quem estiver a ouvir, um exercício intelectual um bocadinho mais apurado.

Essa falta de manha não é “imaturidade política”, como diz António José Seguro?
Uma das principais razões pelas quais apoio o almirante Gouveia Melo é precisamente por ser mais frontal, mais genuíno e até por medir menos as palavras. Nisso até somos os dois um bocado parecidos. Tal como muitos portugueses, estou farto dessas pequenas habilidades e dessas pequenas táticas de momento. Gosto de uma pessoa mais frontal, corajosa, que diga aquilo que sente e aquilo que pensa. Naturalmente, tem de ter alguns filtros. Mas identifico-me muito mais com quem é sincero e genuíno do que quem é cheio de manhas, cheio de truques, cheio de politicamente correto e de frases feitas.

Recentemente, houve toda uma controvérsia em torno da entrevista de Gouveia e Melo sobre as intenções de Marcelo Rebelo de Sousa e do Governo em travar esta candidatura presidencial. Acompanha esta tese? Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro quiseram travar Henrique Gouveia e Melo? Porquê?
Acho que isso tem um significado rigorosamente zero para aquilo para as eleições presidenciais.

Há dias, em entrevista à RTP2, deixou uma ideia curiosa: “Se Marques Mendes ganhasse as eleições, isso abria muito as portas a uma vitória do Chega nas próximas Legislativas”. E acrescentou:  “Se o Presidente não for um homem livre, não vai acender uma luz de esperança às pessoas”. Marques Mendes não é um “homem livre”?
Luís Marques Mendes é, de todos os candidatos, aquele que mais se identifica com aquilo que é o sistema. Aquele que está mais próximo daquilo que é o politicamente correto. Aquele que melhor “traduz o mais do mesmo”. Se votarmos em Luís Marques Mendes e ele ganhar, elegemos alguém que personaliza aquilo que é política hoje, muito mais ainda que o atual líder do PSD ou o atual líder do PS. Se o descontentamento em Portugal atingiu patamares muito elevados, alguns traduzidos em votos no Chega, outros traduzidos em abstenção, e votarmos para a Presidência da República em mais do mesmo, estamos a potenciar esse descontentamento. Porque não acendemos uma luz de esperança. O almirante é aquele que pode polarizar o descontentamento e, ganhando as eleições, pelo menos durante um ano e meio, dois anos, o descontentamento abranda — fica na expectativa face à novidade que aparece na política portuguesa. Se elegermos aquele que personaliza o “mais do mesmo”, o Chega fica a ganhar. Se votarmos em algo diferente, o povo português fica na expectativa, porque corporiza algum descontentamento só que de uma forma não radical, de uma forma sóbria, equilibrada e com sentido de Estado.

Justa ou injustamente, tem-se feito uma comparação direta entre Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Marques Mendes. Pergunta direta: Marcelo Rebelo de Sousa foi um mau Presidente da República?
Estou a ser entrevistado na qualidade de mandatário de Henrique Gouveia e Melo. Não posso esquecer que estou a representar um candidato a Presidente da República. Não é numa campanha eleitoral para as presidenciais a melhor altura para se estar a avaliar aquilo que fez o Presidente anterior. Estou condicionado. Vou apenas dizer que, pessoalmente, os mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa, mais o segundo que o primeiro, não são totalmente do meu agrado pessoal.