Durante uma entrevista no programa Provoca (TV Cultura), Arnaldo Antunes revelou algo que surpreendeu parte dos fãs mais atentos à sua faceta literária: o ex-Titã, poeta e pensador, ainda não conseguiu concluir – ou sequer mergulhar de vez – na monumental obra de Marcel Proust, “Em Busca do Tempo Perdido”.
“Eu tenho que ler Proust”, disse Arnaldo, com a naturalidade de quem confessa um pecado leve. “É um dos meus projetos de leitura. Mas só quando tiver umas férias, um tempo largo assim, para mergulhar. Eu já tentei – comecei a ler o primeiro volume numa férias e estava adorando. Mas aí voltei das férias, caí no cotidiano atribulado, e interrompi a leitura.”
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Ao ouvir a confissão, o apresentador comentou com ironia: “O cotidiano… nem no amor a gente aguenta.” O apresentador, então, mudou o rumo da conversa para uma questão que ronda os grandes artistas: a morte. “Como é que você gostaria de morrer, Arnaldo?”, perguntou.
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Sem hesitar, o músico respondeu: “Acho que sem aviso. Sem saber. De repente. Assim, o mais rapidamente possível.” O apresentador, surpreso, completou: “Isso daí, quem não quer? Todos nós. Essa é a morte santa.” Com serenidade, Arnaldo devolveu: “A morte que eu não quero é aquela que se arrasta. Essa é um horror.” A conversa seguiu para o além – literalmente. O jornalista quis saber o que Arnaldo pensa que acontece depois da morte. “O bom é não saber”, respondeu ele, em tom quase zen.
O apresentador, então, entregou o programa ao poeta: “Esse é o programa mais livre do mundo. Você pode olhar praquela câmera e dizer o que quiser – sobre o país, o mar, o ar, Deus, o diabo, o que for. A vida é sua.”
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Arnaldo respirou e citou o compositor e artista experimental John Cage, num gesto que parece resumir toda a sua filosofia: “Eu estou aqui e não tenho nada a dizer. E o estou dizendo.”
Logo depois, Arnaldo recitou um de seus textos mais emblemáticos, como se respondesse, em forma de poesia, a tudo o que havia sido perguntado:
“A poesia está guardada nas palavras,
é tudo que eu sei.
Meu fado é não entender quase tudo.
Sobre o nada tenho profundidades.
Poderoso, pra mim,
não é aquele que descobre o ouro,
mas aquele que descobre
as insignificâncias do mundo –
e as nossas.”
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Ao final, comovido, ele concluiu o poema com uma confissão que mistura humildade e ironia.
“Por essa pequena sentença,
me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado
e chorei.
Sou fraco para elogios.”
