A viúva do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi, assassinado em 2018, pediu hoje a divulgação da transcrição da chamada telefónica de 2019 entre o Presidente dos Estados Unido e o príncipe saudita Mohammed bin Salman.
Hanan Elatr Khashoggi juntou-se aos democratas que têm levantaddo questões sobre se Trump beneficiou pessoalmente da sua ligação ao príncipe herdeiro saudita.
A viúva do jornalista apareceu no Capitólio na manhã de hoje, após a rejeição de Trump aos resultados serviços secretos dos EUA, que indicavam que o Príncipe Mohammed provavelmente tinha culpa no assassinato do seu marido, ocorrido em outubro de 2018.
Trump concedeu esta semana ao governante saudita algumas das mais altas honras de Washington para um dignitário estrangeiro, aprofundando a relação comercial e militar entre os dois países.
Oficiais dos serviços secretos sauditas e um médico forense mataram e desmembraram Jamal Khashoggi no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2018.
“Não há justificação para o raptar, torturar, matar e desmembrar”, afirmou hoje, emocionada Hanan Elatr Khashoggi durante uma conferência de imprensa. “Isto é um ato terrorista”, acrescentou.
A exigência no Congresso para que a administração Trump liberte as transcrições das chamadas está a ser liderada pelo deputado Eugene Vindman, um democrata estreante da Virgínia que foi assessor jurídico adjunto do Conselho de Segurança Nacional, durante o primeiro mandato do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Vindman, que teve acesso à transcrição da chamada telefónica de Trump com o príncipe Mohammed, recusou-se na sexta-feira a entrar em detalhes sobre o documento classificado, mas disse que este usava “a terminologia de quid pro quo, os benefícios subsequentes que o presidente obteve.”
Os legisladores democratas também salientaram que a família de Trump tem grandes negócios na Arábia Saudita, que por vezes beneficiaram do envolvimento direto do príncipe.
A situação traz ecos do primeiro processo de “impeachment [um processo político-criminal que visa destituir alguém de um cargo governativo, em países com modelos de governo presidenciais]” de Trump em relação à sua chamada de julho de 2019 com Volodymyr Zelenskyy, na qual pediu ao novo presidente ucraniano que lhe fizesse um “favor” que era investigar o seu rival presidencial, Joe Biden.
Na altura, Trump acabou por divulgar uma transcrição da chamada com Zelenskyy, na qual ele também disse que iria reter 400 milhões de dólares em ajuda militar.
Vindman, então no conselho de segurança, também viu a transcrição dessa chamada e disse que, de todas as chamadas que ouviu no seu trabalho, as chamadas com Zelenskyy e com o Príncipe Mohammed destacaram-se como as mais preocupantes.
O deputado classificou a transcrição da chamada com o governante saudita como “chocante”. “A família Khashoggi e o povo americano merecem saber o que foi dito nessa chamada”, acrescentou.
Quando questionado se a Casa Branca divulgaria a transcrição, o diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung, disse, numa declaração, que Vindman era “um parlamentar ressentido que ninguém leva a sério. Ele é um mentiroso em série e fez parte da farsa relacionada à chamada perfeita da Ucrânia, na qual o próprio presidente ucraniano disse isso”.
O irmão gémeo de Vindman, então oficial do Exército, o tenente-coronel Alex Vindman, também trabalhava no Conselho de Segurança Nacional na altura e teve um papel proeminente no `impeachment` de Trump, em 2019. Mas, não era uma figura tão pública nesse julgamento de `impeachment` como o seu irmão.
No entanto, depois de o Senado votar pela absolvição de Trump das acusações de `impeachment` da Câmara, a Casa Branca afastou Alex Vindman do conselho e também afastou Eugene Vindman. Este último concorreu a um cargo representando o norte da Virgínia no ano passado.
É improvável que a administração Trump liberte voluntariamente a transcrição da chamada de 2019 com o Príncipe Mohammed. Os legisladores democratas, que estão em minoria, também têm pouco poder para forçar a sua divulgação.
E também evitaraõ especular se a relação de Trump com o Príncipe Mohammed será motivo para outra investigação de “impeachment”, se recuperarem a Câmara no próximo ano.