A posse total de aparelhos de ar condicionado permanece relativamente baixa (20%), na Europa, segundo dados da Agência Internacional de Energia (em inglês, IEA). Contudo, os verões mais longos e as ondas de calor estão a gerar picos na procura por aparelhos de refrigeração.

Mulher a controlar um ar condicionado com o comando

Este ano deverá trazer outro recorde em matéria de calor, com várias regiões da Europa e, especificamente, de Portugal, a registarem temperaturas superiores a 40 graus Celsius.

O aumento do calor, bem como as mudanças culturais e as alterações nos rendimentos, estão a impulsionar a procura por aparelhos de ar condicionado, de acordo com um relatório da IEA, publicado na semana passada.

Os dados da IEA indicam que a posse total de aparelhos de ar condicionado permanece relativamente baixa, na Europa, com os 20% a contrastarem com os cerca de 90% dos Estados Unidos, segundo a sua Administração de Informação Energética.

Apesar desta discrepância, o sócio da McKinsey, Paolo Spranzi, disse que tem havido uma “aceleração” no mercado europeu de refrigeração, particularmente devido às ondas de calor deste ano.

As coisas estão a mudar, porque vemos ondas de calor mais frequentes e prolongadas, também na parte norte da Europa, onde a penetração é menor.

Explicou Spranzi, à CNBC.

Ar condicionado portátil

De acordo com Fabian Voswinkel, analista de políticas de eficiência energética da IEA, embora haja uma procura crescente por aparelhos portáteis e sistemas completos de ar condicionado embutidos nas residências, há uma diferença no ritmo desse aumento.

Uma vez que estes últimos demoram mais tempo a instalar e, muitas vezes, são uma compra única, manifestam-se como uma tendência mais lenta.

Por outro lado, a procura por unidades portáteis, que os comerciantes descrevem com “filas de vários meses até bem depois do verão”, constitui uma procura mais “específica”.

Além da crescente procura por aparelhos de ar condicionado portáteis, empresas como a Johnson Controls, especializada em tecnologias para edifícios, têm observado um aumento no interesse por tecnologias de aquecimento, ventilação e ar condicionado (em inglês, HVAC) para centros de dados, cuidados de saúde, indústria e imóveis comerciais.

À medida que a adoção da [Inteligência Artificial] acelera, também aumenta a necessidade de sistemas de refrigeração mais inteligentes e eficientes, tornando o HVAC um facilitador crítico da transformação digital.

Explicou Katie McGinty, diretora de sustentabilidade da empresa, destacando, também, o aumento no interesse por bombas de calor, que oferecem uma solução “dois em um”: aquecimento e ar condicionado.

 

Procura por refrigeração pode ser um problema energético e climático

Segundo a IEA, a procura de energia para refrigeração poderá quase triplicar até 2050, caso não seja controlada.

Conforme recordado por Spranzi, “o ar condicionado era considerado um luxo, ou mesmo um desperdício de dinheiro, tendo em conta também os elevados custos da eletricidade aqui na Europa”.

Fonte: IEA (2025), Estimated air conditioner penetration by income quintile in Europe & Central Asia, East Asia and Pacific and sub-Saharan Africa, IEA

Agora, além de as gerações mais jovens serem menos propensas a ver o ar condicionado como um luxo, o aumento do trabalho a partir de casa estimula a procura de meios de refrigeração dos espaços.

Como o aquecimento e a refrigeração em edifícios representam 20% das emissões globais de dióxido de carbono, são um “verdadeiro facilitador” das emissões globais e um fator significativo a considerar quando se trata de como as novas gerações de aparelhos de ar condicionado podem impulsionar a sustentabilidade, segundo Spranzi.

A par disso, as perspetivas para o crescimento da carga elétrica europeia são “complexas”, com muitos fatores variáveis a contribuir para as previsões das empresas de serviços públicos de um crescimento anual de 1 a 8% nos próximos cinco anos, dependendo do país, de acordo com Diego Hernandez Diaz, da McKinsey.

Atualmente, as redes estão em expansão em toda a Europa, de modo a permitir cargas adicionais provenientes de refrigeração, carregamento de veículos elétricos, bombas de calor e da indústria de eletrificação.

Contudo, segundo Fabian Voswinkel, “neste momento, se de repente todos os alemães dissessem: «Vou comprar um ar condicionado portátil para ligar à noite», a situação poderia ficar complicada”.