Deixa-se cair numa poltrona, suspira, passa a mão na barriga. Começa a contar que está em fuga há mais de três anos. A gravidez, muito perto do tempo, faz esticar o tecido do vestido até quase à transparência. Portugal é o fim que deseja para o seu percurso, mas sente-se cansada, um bocadinho ansiosa. Em setembro de 2022, Fathima Kamará, então com 20 anos, saiu de casa, na Serra Leoa, para não ter de “casar com um homem velho”.

O noivo que tinha escolhido para si, Muhammad, fugiu com ela, mas decidiram separar-se pouco depois, quando receberam de amigos o aviso de que eram procurados pelas respectivas famílias. Fathima continuou sozinha para a Turquia; ele, talvez, para a Líbia. No mar Egeu, a caminho das ilhas gregas, o barco onde seguia perdeu o motor e começou a afundar-se. “Eu só ouvi alguém gritar: ‘ponham os vossos coletes, liguem às vossas famílias agora, e seja o que Deus quiser’”, conta a jovem. O barco foi engolido pelo mar, e os passageiros ficaram à espera, na água. “Morreram 15 pessoas nesse dia. Eu fui uma das sobreviventes, fomos salvos por um barco de turistas”.

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