Mais ansiedade e maior nervosismo, maior resistência a distinguir os primeiros sintomas de um acidente vascular cerebral (AVC) colocam as mulheres em maior risco diante esta doença que, dependendo da extensão da lesão e do tratamento imediato, pode ser recuperável ou, por outro lado, mortal. Segundo o documento Causas de Morte do Instituto Nacional de Estatística, a doença é a que mais mata em Portugal e tem maior taxa de incidência no sexo feminino: em 2023, morreram 5116 mulheres e 4084 homens.
“Há dificuldade em identificar sintomas mais ligeiros de AVC e que são igualmente graves e podem levar a situações bem mais complicadas nas mulheres do que nos homens”, alertou, em abril deste ano, o neurologista e membro da Sociedade Portuguesa de Neurologia Vítor Rocha de Oliveira. “As mulheres têm mais propensão para serem mais ansiosas e terem sintomas que não são AVC, mas que podem sugerir AVC, como, por exemplo, tonturas, que é um sinal um pouco específico”.
A este fenómeno juntam-se o fator económico, com o neurologista a especificar que “as mulheres têm níveis de cuidado e económicos menores – como a alimentação, hábitos de saúde – e que estão muito relacionados com a patologia do AVC, existindo mais casos em níveis sociais mais baixos”, detalha.
Quanto às hormonas, o médico explicou que estas “também têm implicações”. “As mulheres estão mais expostas a risco de terem AVC em idades jovens” por via “das características normais do sexo feminino e, mais tarde, para outras situações como a gravidez e o parto”. Ainda que em números muito residuais, como faz questão de salvaguardar Vítor Rocha de Oliveira, “são situações que podem aumentar o risco de AVC por via de alterações hormonais, imunológicas e inflamatórias dos vasos”, com especial incidência “nas duas semanas no puerpério”.