Ele é profundamente detestável. Ela precisa tanto de odiar alguém como do ar que respira. Caos perfeito. A relação é antagónica, mas fascinante, tão depressa esbarra na amizade como na vingança, e assim nasce uma produção que nos deixa a pensar nos nossos próprios fantasmas.

“O monstro em mim” estreou a 13 de novembro na Netflix e, apesar de ser o primeiro grande trabalho do americano Gabe Rotter, é surpreendentemente viciante. Uma lufada de ar fresco com momentos de tensão e diálogos cativantes. A brilhante Claire Danes é Aggie Wiggs, uma escritora com um best-seller baseado na relação conturbada com o pai, que se vê desmoronar face à inultrapassável morte do filho, de oito anos.

Separada da mulher (Natalie Morales) e a viver sozinha no casarão que idealizou para a família, Danes recebe um caixa de vinhos do recém-chegado à vizinhança Nile Jarvis (Matthew Rhys). Arrogante, o milionário, com negócio de família no setor imobiliário, é o principal suspeito da morte da primeira mulher, que desapareceu sem deixar rasto anos antes. Aggie tem as suas desconfianças, mas, mesmo contrariada, deixa-o entrar em sua casa e na sua vida. Num processo de bloqueio criativo e com suspeitas quanto a um novo desaparecimento lá na localidade, a escritora acaba por aceitar uma sugestão de Nile: escrever um livro sobre ele. O acordo é tudo menos desinteressado, claro, e torna-se o mote de um duelo entre uma guerreira ferida e um homem repleto de lutas interiores.

A visita inesperada que Aggie recebe, numa noite, do agente do FBI Brian Abbott (David Lyons), o investigador principal do desaparecimento da esposa de Nile, torna-se um dos momentos mais importantes do enredo, abrindo um poço sem fundo de questões perturbadoras. Todos temos fantasmas. Mas uns são bem mais escabrosos que outros.