Representantes da Ucrânia, Rússia e EUA juntam-se este domingo com os conselheiros de segurança nacional da França, Reino Unido, Alemanha e funcionários da União Europeia. Donald Trump deu à Ucrânia um prazo até 27 de novembro para aceitar o plano de 28 pontos

A Ucrânia iniciará este domingo conversações com os EUA sobre o plano de paz de 28 pontos proposto. Nesse encontro em Genebra, na Suíça, estarão também presentes os conselheiros de segurança nacional da França, Reino Unido, Alemanha e representantes da União Europeia.

Nove funcionários ucranianos, incluindo Andriy Yermak, chefe do Gabinete do Presidente, e Kyrylo Budanov, chefe dos serviços secretos militares do país, deverão participar na reunião com altos funcionários dos EUA.

A delegação de Washington incluirá o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff, informou a CNN, citando um funcionário não identificado.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que tinha nomeado uma delegação para discutir com Washington o plano para travar a guerra da Rússia na Ucrânia: “Assinei um decreto sobre a composição da delegação ucraniana e aprovei todas as diretivas relevantes”, afirmou Zelenskyy num vídeo. “Os nossos representantes sabem como proteger os interesses nacionais ucranianos e sabem exatamente o que é necessário para impedir que a Rússia realize uma terceira invasão, um novo ataque contra a Ucrânia”.

Zelensky advertiu anteriormente que a Ucrânia enfrentava “um dos momentos mais difíceis da nossa história” devido à pressão dos EUA para aceitar o plano – cujos pormenores foram divulgados e são vistos como favoráveis a Moscovo.

De acordo com Rustem Umerov, secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, a Ucrânia está a entrar na última fase das conversações com os Estados Unidos com uma “compreensão clara” dos seus interesses nacionais, disse Umerov.

O presidente dos EUA, Donald Trump, deu à Ucrânia um prazo até 27 de novembro para aceitar o plano de 28 pontos, enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que este poderia ser a “base” para um acordo.

Macron e Starmer disponíveis para discutir o plano de 28 pontos

O presidente francês Emmanuel Macron disse que o plano de paz apresentado pelos EUA para pôr fim à guerra entre a Ucrânia e a Rússia é uma boa base de trabalho mas precisa de ser revisto, com a participação dos europeus. “É bom na medida em que propõe a paz e reconhece elementos importantes sobre questões de soberania, garantias de segurança”, disse aos repórteres à margem da reunião do G20 na África do Sul. “Mas é uma base de trabalho que precisa de ser revista, como fizemos no verão passado, porque este plano, em primeiro lugar, não foi negociado com os europeus”, disse, citado pela Reuters. “No entanto, estipula muitas coisas para os europeus. Os ativos congelados da Rússia são detidos pelos europeus. A integração europeia da Ucrânia está nas mãos dos europeus”, disse Macron. “Portanto, há muitas coisas que não podem ser simplesmente uma proposta americana, que exigem uma consulta mais alargada”, acrescentou. 

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer falou por telefone com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e deepois fez também uma chamada ao presidente dos EUA, Donald Trump, disse um porta-voz do governo britânico. Segundo a Reuters, Starmer reiterou o “apoio firme à Ucrânia” da Grã-Bretanha na sua conversa com Zelenskiy e concordou com Trump que as equipas britânicas e americanas trabalhariam em conjunto no plano de paz dos EUA para a Ucrânia em Genebra no domingo. 

Também o presidente do Conselho Europeu, António Costa, considera que plano dos EUA de 28 pontos para a Ucrânia inclui elementos importantes para uma paz duradoura, avança a Reuters. Costa acrescentou que a Europa está preparado para assegurar um futuro de paz sustentável e que convidou os líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia para discutir o tema à margem da cimeira do G20.

“Penso que o foco agora está em Genebra amanhã e se podemos fazer progressos amanhã de manhã”, disse o governante britânico aos jornalistas no G20, acrescentando que, em caso de cessar-fogo, a Ucrânia “tem de ser capaz de se defender”, razão pela qual ele e os seus aliados manifestaram a sua preocupação relativamente aos limites impostos às forças armadas de Kiev. “O consenso foi que existem elementos no plano de 28 pontos que são essenciais para uma paz duradoura, mas que requerem trabalho adicional e que vamos empenhar-nos nesse sentido. É por isso que foi acordado que, amanhã, em Genebra, estarão presentes altos funcionários norte-americanos, conselheiros de segurança nacional europeus, incluindo o do Reino Unido, e ucranianos, para trabalhar no projeto”.

Trump quer acabar com a guerra “de uma forma ou de outra”

Depois de na sexta-feira, ter dito que “são precisos dois para dançar o tango” e ter ameaçado o presidente ucraniano, dizendo que “[Zelensky] vai ter de gostar do plano e, se não gostar, então devem continuar a combater”, este sábado, o presidente norte-americano Donald Trump disse aos jornalistas que este plano de 28 pontos não é ainda a sua “oferta final” à Ucrânia.

“Não, não é a minha oferta final”, disse Trump, quando questionado pelos jornalistas. “Gostaríamos de chegar à paz. Isso já devia ter acontecido há muito tempo”. “A guerra da Ucrânia com a Rússia nunca deveria ter acontecido. Se eu fosse presidente, nunca teria acontecido. Estamos a tentar acabar com ela. De uma forma ou de outra, temos de a acabar”, acrescentou.

Aliados afirmam que o plano é “uma boa base de trabalho”

Em comunicado, os aliados da Ucrânia na Europa, no Canadá e no Japão afirmam que o plano contém elementos “essenciais para uma paz justa e duradoura”, mas referem preocupações quanto à alteração das fronteiras e às limitações das forças ucranianas, afirmando que o plano “exige trabalho adicional”.

A declaração assinada este sábado, durante a cimeira do G20 na África do Sul, foi assinada pelos líderes do Canadá, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Japão, Países Baixos, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Noruega. Dois altos funcionários da UE também estavam entre os signatários.

A declaração diz: “Acreditamos, portanto, que o projeto constitui uma base que exigirá trabalho adicional. Estamos prontos a empenhar-nos para garantir que a paz futura seja sustentável. Estamos cientes do princípio de que as fronteiras não devem ser alteradas pela força. Estamos igualmente preocupados com as limitações propostas para as forças armadas da Ucrânia, que a deixariam vulnerável a futuros ataques”.

“A implementação de decisões relacionados com a União Europeia e com a NATO necessitará do consentimento dos membros da UE e da NATO, respetivamente”, acrescenta.

A declaração foi assinada pelos líderes da Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Espanha, Países Baixos, Irlanda, Finlândia, Noruega e da UE, bem como pelos primeiros-ministros do Canadá e do Japão, que dizem estar “prontos a empenhar-se para garantir que a paz futura seja sustentável”.

O plano de paz dos EUA, que foi amplamente divulgado, propõe a retirada das tropas ucranianas da parte da região oriental de Donetsk que controlam atualmente e o controlo russo de facto de Donetsk, bem como da região vizinha de Luhansk e da península meridional da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

O plano também inclui a fixação das fronteiras das regiões de Kherson e Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, ao longo das atuais linhas de batalha. Ambas as regiões estão parcialmente ocupadas pela Rússia.

O projeto dos EUA também limitaria as forças armadas ucranianas a 600.000 efetivos, com os caças europeus estacionados na vizinha Polónia.

Kiev receberia “garantias de segurança fiáveis”, diz o plano, embora não tenham sido dados pormenores. O documento diz que “se espera” que a Rússia não invada os seus vizinhos e que a NATO não se expanda mais.

O plano também sugere que a Rússia será “reintegrada na economia global”, através do levantamento das sanções e do convite à Rússia para voltar a fazer parte do G7, o grupo dos países mais poderosos do mundo – transformando-o novamente no G8.