Vargas Ariza et al. / Antiquity; ARC-DIMAR

Pormenores de “cobs” de ouro observados em imagens de ROV do local do naufrágio do galeão San José

Um canhão, uma chávena de porcelana e três moedas. São apenas a ponta do iceberg do tesouro de cerca de 18 mil milhões de euros que se encontra afundado algures nas profundezas do Mar das Caraíbas.

O governo da Colômbia apresentou nesta quarta-feira, em Cartagena das Índias, os cinco primeiros objetos arqueológicos recolhidos dos destroços do naufrágio do mítico galeão San José.

As peças, recolhidas por navios da Armada da Colômbia no âmbito da missão “Rumo ao Coração do Galeão San José”, foram um canhão, uma chávena de porcelana e três moedas, anunciou o Instituto Colombiano de Antropología e Historia (ICANH) em comunicado.

Foram ainda recolhidos dois fragmentos de porcelana e vestígios de sedimento associados a estes cinco objetos, acrescenta a nota do ICANH.

Em junho de 1708, durante a violenta Guerra da Sucessão Espanhola, o galeão espanhol San José afundou no oceano Atlântico, depois de a pólvora da embarcação ter explodido, enterrando uma grande quantidade de tesouros.

Considerado o Santo Graal dos naufrágios, o galeão espanhol esteve no fundo do mar mais de 310 anos, tendo sido encontrado em 2015 perto da costa colombiana graças a um submarino robótico subaquático.

Segundo o antigo presidente colombiano Juan Manuel Santos, a carga do galeão afundado, que se estima que tenha cerca de 18 mil milhões de euros em moedas de ouro e prata, esmeraldas, pedaços de vidro e objetos de porcelana, é “o tesouro mais valioso jamais encontrado na história da humanidade”.

Em junho de 2024, a Colômbia iniciou uma missão secreta para resgatar o tesouro, algures nas profundezas do Mar das Caraíbas.

“Este facto histórico é uma demonstração do reforço das capacidades técnicas, profissionais e tecnológicas do Estado colombiano para proteger e divulgar o Património Cultural Submerso, como parte da identidade e da história colombianas”, declarou Yannai Kadamani Fonrodona, ministra da Cultura da Colômbia, citada no comunicado.

Para Alhena Caicedo Fernández, directora do Instituto Colombiano de Antropologia e História – ICANH, a recolha destes objectos arqueológicos “abre a possibilidade de a cidadania se aproximar, através do testemunho material, da história do galeão San José”.

A polémica e a história do San José

A propriedade do galeão San José tem sido objeto de intensas disputas internacionais. Apesar de o naufrágio ter sido encontrado em águas colombianas, a Espanha defende que o galeão pertencia à sua frota e, por isso, lhe pertence.

A empresa norte-americana Sea Search Armada também reivindica uma parte do tesouro, argumentando que localizou o naufrágio há 42 anos, exigindo uma quota de 50% dos lucros. Por seu lado, as comunidades indígenas bolivianas reivindicam os tesouros, alegando que podem ter sido extraídos pelos seus antepassados.

A história do galeão San José remonta a 1698, quando foi lançado como parte da Armada Espanhola e da sua frota para o comércio de mercadorias através do Atlântico.

Com 64 canhões, três mastros e três conveses, o galeão participou na Guerra da Sucessão Espanhola de 1701, desencadeada pela morte sem descendência de Carlos II, o famoso “Enfeitiçado”.

Em junho de 1708, quando se encontrava ancorado em águas colombianas, o San José foi atacado por uma esquadra britânica liderada pelo comandante Charles Wager.

De acordo com um artigo publicado em 1991 no Mariner’s Mirror, o galeão espanhol explodiu subitamente durante o ataque, causando a morte de 600 tripulantes e deixando apenas 11 sobreviventes.

A magnitude do tesouro e a complexidade jurídica e cultural em torno da sua recuperação fazem dele uma das grandes descobertas de todos os tempos, só comparável a achados como o túmulo de Tutankhamon.

Desta vez, no entanto, as autoridades colombianas não querem apenas pilhar a riqueza enterrada no fundo do mar, mas recuperá-la respeitando a integridade do naufrágio, salientou o então ministro da Cultura da Colômbia, Juan David Correa: “a história é o tesouro”.


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