Não combatem diretamente os fogos, mas são uma peça essencial no apoio às autoridades no terreno. Esta segunda-feira, quando deflagrou um incêndio de grandes dimensões em Alvarenga, no concelho de Arouca, não foram helicópteros, camiões nem bombeiros que o detetaram. Essa função coube aos drones de vigilância ao serviço da autarquia que viram os primeiros focos “junto a uma via municipal”, algo que a presidente da Câmara de Arouca destacou como um “sistema inovador” que prestou este apoio aos serviços municipais de proteção civil. Os drones da empresa DIVS, com cerca de 80cm de comprimento, mais de 6kg e equipados com visão noturna, tinham começado a operar no dia 25 de julho, três dias antes do início do incêndio que ainda lavra.

São usados basicamente na monitorização de zonas que são menos acessíveis, para conseguirmos perceber qual é que é a direção que o fogo possa tomar, de modo a conseguirmos decidir onde e como posicionamos a equipa para o combate”, explica o vice-presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil (AsproCivil). Jorge Carvalho da Silva, em declarações ao Observador, sublinha que este novo recurso — que entrou de forma mais assídua no arsenal da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) depois da pandemia — já se mostrou crucial na preparação das operações de extinção das chamas.

O representante da AsproCivil recorda casos em que os drones foram responsáveis pela coordenação da decisão do combate ao incêndio, seja através da verificação do teatro de operações, ou dos cálculos subjacentes que permitem determinar as melhores formas de enfrentar as chamas. “Levantam voo, dão as suas indicações às equipas que estão no chão para perceberem onde é que tem que chegar a água, para onde é que têm que fazer o combate ao incêndio e qual a prioridade. É muito esse apoio à decisão que dá”, acrescenta.

Sublinha, porém, que apesar de serem uma boa ferramenta nas operações de combate aos incêndios, os drones não estão distribuídos equitativamente por todo o território nacional. Questionado sobre um número total de drones presentes nos vários quartéis de bombeiros e ao serviço da Proteção Civil, Jorge Carvalho da Silva admite que não consegue responder, uma vez que não existe qualquer registo numa plataforma para se poder verificar quem tem — ou não — estes equipamentos. O Observador perguntou também ao Ministério da Administração Interna, que indicou igualmente não saber quantos drones se encontram ao serviço dos bombeiros e da Proteção Civil.

“Sei que alguns [quartéis] têm, porque há relatos de uso para a decisão do Comando de Operações de Socorro, mas não há dados que nos permitam dizer que existem X corporações com [drones] e outras não”, reforça, sem deixar de mencionar o regime misto que existe atualmente em Portugal, com 435 corporações de bombeiros voluntários e 25 profissionais — todas com uma “tipologia diferente de trabalho, diferentes direções e investimentos”.

A GNR também tem drones e já os destacou para o teatro de operações. “Estivemos no incêndio de Lindoso [no concelho de Ponte da Barca] e, durante a noite de terça-feira, estivemos no incêndio de Arouca durante a noite”, confessa o Tenente-coronel João Fernandes, da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da Guarda Nacional Republicana.

No decorrer da semana, com as chamas a propagarem-se na zona de Ponte da Barca, chegou a ser lançada a hipótese de ter sido um drone lúdico — comandado por um civil — a causar o incêndio que perdura desde o passado fim de semana. Esta terça-feira, o jornal Expresso admitiu que a Polícia Judiciária teria iniciado uma investigação no sentido de tentar apurar se realmente esta poderia ser uma possibilidade. Contudo, ao Observador, fonte oficial da PJ confirma que não há qualquer tipo de inquéritos ou investigações abertas relacionadas com a utilização de drones para atear incêndios e que qualquer outra informação “não corresponde de todo à verdade”.

Os primeiros drones começaram a ser utilizados pela Proteção Civil ainda em 2019. Ainda de uma forma muito experimental, os trabalhos foram interrompidos pela pandemia da Covid-19. Retomaram nos anos seguintes, de uma forma algo gradual, mas a tentar acompanhar o ritmo dos incêndios florestais que abalaram Portugal nos últimos verões.

Têm uma “grande capacidade de zoom e de imagem de câmara, com raios de ação bastante longos” e uma autonomia que pode chegar às duas horas de voo sem interrupções. “Normalmente fazem meia hora, ou uma hora no máximo. Nunca se estende até ao máximo de autonomia para poder salvaguardar os equipamentos”, continua Jorge Carvalho da Silva. Outro cuidado que é preciso ter durante o voo destes aparelhos, acrescenta, é o vento. “O calor gera correntes ascendentes de vento muito grandes e, também, a temperatura danifica os componentes elétricos do drone, por isso nós voamos a uma altitude normalmente grande quando estamos em perímetro de incêndio ativo”.