Um estudo desenvolvido por investigadores portugueses e alemães conclui que o Estreito de Gibraltar poderá “desaparecer” dentro de cerca de 20 milhões de anos, voltando a unir Europa e África. A investigação revela que a dinâmica tectónica da região está a mudar e que as placas africana e euroasiática caminham para um cenário semelhante ao que existia há milhões de anos.
Um arco geológico em transformação
O Estreito de Gibraltar separa a Península Ibérica do Norte de África e marca a ligação entre o Mediterrâneo e o Atlântico. Formado há milhões de anos, sempre foi considerado uma estrutura relativamente estável.
No entanto, novos modelos tridimensionais indicam que essa estabilidade poderá ser apenas temporária. De acordo com o jornal espanhol La Razón, a principal descoberta é que uma zona de subducção, antes considerada inativa, continua ativa e em expansão.
Estudo com assinatura portuguesa
A investigação foi publicada pela Sociedade Geológica da América e contou com geólogos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, do Instituto Dom Luiz e da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz.
Os investigadores criaram um modelo informático tridimensional que simula o comportamento das placas e as forças internas da região.
Os resultados mostram que a placa do Mediterrâneo Ocidental está a afundar sob a do Atlântico, precisamente na região do Estreito.
Um processo silencioso, mas persistente
A existência de sismos frequentes na zona — alguns dos quais significativos, sobretudo no Alto Atlas — confirma que o sistema tectónico está longe de estar adormecido.
Este tipo de movimento corresponde às chamadas zonas de subducção, onde uma placa se instala por baixo de outra.
Os cientistas sublinham que criar novas zonas deste tipo é difícil, porque implica a fratura e o dobrar da crosta, algo que normalmente exige forças enormes.
Uma migração tectónica inesperada
Para explicar o que se passa em Gibraltar, os autores defendem que zonas de subducção podem “migrar” de oceanos em fim de vida, como o Mediterrâneo, para outros mais jovens, como o Atlântico.
Este desvio altera toda a mecânica das placas envolvidas e pode, a longo prazo, inverter o crescimento do Atlântico. Segundo o estudo, este fenómeno já se iniciou e está a progredir lentamente.
Continentes novamente ligados
O modelo geológico mostra que, a continuar este processo, o Estreito de Gibraltar acabará por fechar.
Quando isso acontecer, o Atlântico deixará de entrar no Mediterrâneo e os dois continentes voltarão a unir-se fisicamente. Embora o prazo estimado seja de cerca de 20 milhões de anos, os investigadores consideram que o cenário é geologicamente “iminente”.
Um oceano a formar-se noutro ponto do planeta
Os geólogos recordam também que, noutras regiões do mundo, as placas estão a abrir novas fendas capazes de originar futuros oceanos. Este processo, conhecido como rifting, poderá criar um sexto oceano no continente africano.
Fenómenos deste tipo, embora lentos, mostram que o planeta está em constante remodelação, de acordo com o La Razón.
Um futuro distante, mas com sinais visíveis
Os responsáveis pelo estudo sublinham que os efeitos deste processo não serão sentidos pela humanidade, dada a escala temporal envolvida.
Ainda assim, realçam que os sismos na região mostram que a maquinaria geológica já está em funcionamento. O “adeus” ao Estreito de Gibraltar, dizem, é apenas uma questão de tempo, geológico.
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