A ministra das Forças Armadas de França, Catherine Vautrin, defendeu que o país deve evitar qualquer confronto militar, mas preparar-se para esse cenário, reforçando “o espírito de defesa”. A posição surge depois das declarações do chefe do Estado-Maior do Exército, general Fabien Mandon, que afirmou ser necessário “aceitar perder os nossos filhos” para proteger a nação, segundo noticiou o ‘Euronews’.

As palavras do general, proferidas no Congresso dos Autarcas Franceses, desencadearam forte debate político. Mandon advertiu que Moscovo se prepara “para um confronto com os nossos países até 2030” e que França corre riscos se não estiver preparada para suportar perdas humanas ou consequências económicas ligadas ao esforço de defesa.

O militar insistiu que o país dispõe de capacidade económica e tecnológica, mas falta-lhe “a coragem de aceitar sofrer para proteger o que somos”. A ministra Catherine Vautrin apoiou publicamente o general, salientando que as suas palavras têm sido retiradas de contexto para fins políticos e que refletem a linguagem própria de quem lidera tropas que arriscam a vida diariamente.

Oposição acusa discurso de ‘belicista’ e exige intervenção do presidente

Vários partidos da oposição reagiram com indignação. Jean-Luc Mélenchon, líder do La France Insoumise, contestou “por completo” o discurso do general, considerando que este ultrapassou as suas funções e não tem legitimidade para antecipar sacrifícios ou apelar a preparativos de guerra.

O grupo parlamentar do LFI pediu ao presidente Emmanuel Macron que “chame à ordem” o chefe militar e reafirme que as orientações estratégicas são responsabilidade exclusiva das autoridades civis. Também o Partido Comunista Francês criticou uma “intervenção perigosa” e rejeitou “discursos belicistas insuportáveis”.

À direita, figuras do Rassemblement National classificaram as declarações como “um erro”, questionando a legitimidade do general para formular tal aviso. Alguns dirigentes sublinharam ainda que os franceses não estão dispostos a morrer “pela Ucrânia”.

Governo publica guia para preparar população para crises graves

Em paralelo, o Governo divulgou o guia “Tous responsables”, concebido pelo Secretariado-Geral da Defesa e da Segurança Nacional, que pretende preparar os cidadãos para cenários de crise severa, incluindo situações que envolvam grandes compromissos militares fora do território nacional. O documento afirma que França poderá precisar da mobilização dos seus cidadãos, seja através das reservas operacionais ou de apoio voluntário em áreas essenciais.

As advertências do general Mandon coincidem também com a última Revisão Estratégica Nacional, que identifica a Rússia como “a ameaça mais direta” aos interesses franceses e europeus, e antevê um período de risco elevado de guerra de alta intensidade até 2030.

NATO reforça avisos e pede maior capacidade militar europeia

A análise francesa acompanha a avaliação de responsáveis europeus e da NATO. A Aliança Atlântica alertou que Moscovo poderá estar preparada para uma ofensiva em larga escala dentro de cinco anos, e apelou ao reforço das capacidades de defesa dos seus membros.

Mark Rutte, secretário-geral da NATO, afirmou recentemente que as democracias europeias não podem “sonhar com o perigo” e devem tornar-se “mais fortes, equitativas e letais”. No último ano, e sob influência de Washington, quase todos os países da NATO — exceto Espanha — comprometeram-se a aumentar a despesa em defesa para 5% do PIB.

Segundo o ‘Euronews’, este endurecimento estratégico marca a entrada numa nova era geopolítica, com França a posicionar-se para reforçar os seus mecanismos de dissuasão e resposta, enquanto o debate político interno continua a intensificar-se.