Belinda, 58 anos, trabalhou por décadas como gerente de programas até ser demitida em 2022. Quando tentou voltar ao mercado de trabalho após tirar um tempo para cuidar do pai doente, deu de cara com uma parede. Apesar de enviar currículos por cerca de seis meses, Belinda não recebeu nenhuma oferta — nem mesmo para empregos que não exigiam diploma universitário.
Ela conseguiu se manter financeiramente graças ao bom planejamento e à ajuda de familiares. Mas o processo “pegou o meu ego e, tipo, despedaçou”, comenta Belinda, que pediu para usar apenas o primeiro nome por medo de prejudicar suas futuras oportunidades de trabalho. Agora ela teme quando as pessoas perguntam como está sua busca por emprego. “É difícil quando todo mundo que você conhece está trabalhando e você não”, diz ela.
Embora perder um emprego possa ser devastador financeiramente, também cobra um preço psicológico. Estudos mostram que o desemprego pode resultar em depressão, ansiedade, aumento de conflitos conjugais e maior risco de problemas com uso de substâncias.
A perda de um emprego pode abalar profundamente a saúde mental de uma pessoa Foto: Vadym/Adobe Stock
Cada vez mais pessoas como Belinda enfrentam o desemprego de longo prazo — o relatório mais recente de empregos dos EUA revelou que a parcela de desempregados há mais de seis meses subiu para quase 26%, a maior em mais de três anos. Por causa da paralisação do governo, o relatório mais recente usa dados de agosto. (No Brasil, a taxa de desemprego caiu para 5,6% no trimestre encerrado em setembro, segundo o IBGE)
Mas o impacto emocional da perda de emprego é “uma grande crise que não está recebendo muita atenção”, avalia Ofer Sharone, professor de sociologia da Universidade de Massachusetts Amherst que pesquisa desemprego de longo prazo.
Conversamos com Sharone e outros especialistas sobre como lidar com as repercussões emocionais da perda de emprego.
Reconheça suas emoções
Muitas pessoas tentam deixar de lado as emoções difíceis associadas ao desemprego enquanto se concentram em escrever cartas de apresentação, atualizar currículos e se candidatar a vagas, analisa Sharone. Mas esses sentimentos merecem “a mesma seriedade que daríamos ao impacto emocional do fim de um relacionamento sério”, afirma.
A turbulência mental pode distrair quem busca emprego do objetivo final. Para Belinda, isso significou uma “falta de vontade de fazer networking, de conversar com as pessoas, de fingir que me importo”, observa ela.
Simplesmente dizer em voz alta o que você está sentindo pode ser benéfico, informa Sharone.
Kelly Foster, uma ex-assistente administrativa que vive em Branchburg, Nova Jersey, está desempregada há quase um ano e faz terapia para lidar com o estresse da busca por trabalho. Uma vez, ela recebeu “pelo menos 10” rejeições por e-mail em 24 horas — e no domingo sua candidatura para trabalhar em uma livraria foi rejeitada em apenas sete minutos. “Em dias assim, você quer alguma ajuda sobre como manter o ânimo”, diz.
A terapia pode ser cara, mas alguns terapeutas cobram valores proporcionais à renda do paciente. Programas comunitários de saúde mental são outra opção.
Tente reeenquadrar a situação
Dificuldade para encontrar trabalho não torna ninguém menos valioso do que aqueles que, por acaso, estão empregados.
Ainda assim, os trabalhadores têm mais probabilidade de culpar a si mesmos depois de perder um emprego, em vez de considerar as forças culturais e econômicas que têm grande influência no cenário do desemprego, avalia David Blustein, professor de psicologia de aconselhamento, desenvolvimento e educação no Boston College.
Lembrar que variáveis como discriminação por idade e recessões econômicas não estão sob seu controle pode reduzir a vergonha e a autoculpa — fatores de risco para depressão e ansiedade, acrescenta.
Victoria Heuer, 56 anos, editora em Miami Beach, na Flórida, está desempregada há quase um ano e suas economias diminuíram para alguns milhares de dólares. “Minha ansiedade me diz que tudo é culpa minha”, reflete Victoria. Às vezes ela fica presa em ciclos de pensamentos negativos: “Ninguém quer ouvir falar de mim. Ninguém quer falar comigo.”
Para se reconectar com a realidade, ela pratica agradecer pelas coisas boas da vida, como seu belo quintal, seus filhos adultos e seu namorado, que consegue ajudar financeiramente. Praticar gratidão “também me ajuda a me motivar”, diz ela.
Encontre sua rede de apoio
Apoio emocional pode ser tão importante quanto networking depois de uma demissão. Amy Mazur, orientadora de carreira, sugere visualizar sua rede de apoio fazendo um mapa relacional com círculos concêntricos para categorizar as pessoas que oferecem mais e menos suporte. Apoie-se nas pessoas mais úteis — seu “círculo interno” — e concentre-se em ampliá-lo, enquanto limita o tempo com aqueles que não ajudam tanto, aponta ela.
Você também pode buscar grupos de apoio ao desemprego em organizações religiosas, bibliotecas e organizações sem fins lucrativos.
Jeff Lareau, 41, que vive em Oak Park, Illinois, foi demitido há quase um ano junto com mais de 100 colegas. Juntos, eles formaram um grupo de apoio no Discord.
A rescisão de Lareau acaba em janeiro e, segundo ele, “há um poço de ansiedade no meu estômago todos os dias”.
Em outubro, ele enviou uma mensagem ao grupo: “Pois é, parece que nenhum dos empregos para os quais eu estava entrevistando vai dar certo, então estou me sentindo bem pra baixo no momento.” Ele acrescentou: “Estou aceitando quaisquer e todas as vibrações positivas.”
Logo ele recebeu vários comentários de apoio e mais de 20 emojis de coração e abraço. “Eu sei que é uma coisinha de nada”, diz ele, “mas significa muito para mim.”
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