Desde 2016, havia uma recompensa de cinco milhões de dólares para quem fornecesse ao Governo dos Estados Unidos da América informações sobre ele. Juntou-se ao grupo ainda adolescente, mas foi só no ano passado, com 56 anos, que se tornou no segundo elemento mais importante do Hezbollah. Ao longo de todos estes anos, foi vítima de várias tentativas de assassinato, mas foi quando menos se esperava, num ataque surpresa ao fim de vários meses de paz na capital do Líbano, que o exército israelita reivindicou a morte de Haytham Abu Ali Tabatabai, o chefe militar do grupo xiita libanês.

Está em vigor, há cerca de um ano, um cessar-fogo entre o Líbano e Israel. O ponto mais importante do acordo visava o desarmamento do Hezbollah e a sua retirada da margem sul do rio Litani. Ao longo destes 365 dias, foram várias as ocasiões em que os israelitas dizem ter sido obrigados a retomar a ofensiva em território libanês para garantir que o Hezbollah cumpria as condições acordadas. O mesmo aconteceu este domingo, quando as IDF bombardearam os subúrbios de Beirute pela primeira vez em mais de cinco meses e atingiram o apartamento onde se encontrava Ali Tabatabai.

No total, morreram cinco pessoas — incluindo o Chefe do Estado-maior do Hezbollah — e outras 28 pessoas ficaram feridas, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. O grupo xiita libanês, em reação ao ataque e quando ainda não era conhecido o paradeiro do número dois do seu braço armado, garantiu estar a avaliar os danos da ofensiva israelita, bem como a escala da resposta que iriam dar a Israel. “Tudo é possível”, admitiu Mahmoud Qamati, um membro do conselho político do Hezbollah, quando questionado sobre a possível retaliação contra Telavive.

O responsável pelas IDF, o tenente general Eyal Zamir, em conferência de imprensa após a confirmação da identidade do alvo deste ataque, diz que o objetivo — para além de eliminar “o comandante mais experiente da organização terrorista Hezbollah” — foi “prevenir o reerguer do grupo”, bem como “atingir especificamente aqueles que querem ferir o Estado de Israel”. Adicionalmente, o Chefe do Estado-maior do Exército israelita garante estar comprometido com o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Líbano, mas que não vão “permitir o fortalecimento ou rearmamento da organização terrorista Hezbollah”, prometendo “remover qualquer ameaça à população” israelita.

Haytham Abu Ali Tabatabai, como muitos jovens libaneses radicalizados pelo historial bélico do país, juntou-se ao braço armado do Hezbollah antes de completar 18 anos. Nascido em 1968, na capital do Líbano, filho de mãe libanesa e pai iraniano, acabou por se alistar no exército do grupo xiita pouco mais de uma década depois de nascer, nos anos 80, durante a guerra civil, opondo-se às forças norte-americanas no país, bem como contra as forças sírias uns anos mais tarde.

Acumulando uma grande experiência militar logo ao fim de poucos anos de militância, Ali Tabatai passou por vários cargos até se tornar no responsável da organização na Síria. Foi, também, comandante da Força Radwan, uma unidade do Hezbollah unicamente focada no conflito com Israel. Mas terá sido em território sírio que ganhou popularidade, ao fortalecer a presença do grupo do outro lado da fronteira.

Os efeitos das suas operações na Síria eram tão evidentes que Israel o classificou logo como uma ameaça. Em 2015, o exército israelita bombardeou o sul da Síria com o objetivo de neutralizar Ali Tabatabai. Fracassaram e mataram um outro comandante do Hezbollah, Jihad Mughniyeh, enquanto o responsável pelos trabalhos do grupo em território sírio conseguiu escapar ileso.

Acumulando os encargos das operações do Hezbollah tanto na Síria e no Iémen, Haytham Abu Ali Tabatabai tornou-se numa figura incontornável no meio. Em 2016, os Estados Unidos da América chegaram a emitir uma recompensa de cinco milhões de dólares para quem conseguisse chegar até ao comandante libanês. Nunca foi reclamada.

Mais recentemente, depois do dia 7 de outubro de 2023 ter despertado as tensões já quentes na região, Ali Tabatabai foi destacado com uma nova responsabilidade. Largados os seus encargos no estrangeiro, passaria a comandar as operações da organização, sendo o responsável pelo fortalecimento do braço armado do Hezbollah, e segundo em comando do grupo atrás apenas do secretário-geral Naim Qassem, que sucedeu o líder defunto após o ataque orquestrado por Netanyahu durante a Assembleia-geral das Nações Unidas do ano passado.

Foi só em novembro de 2024, quando Israel lançou uma ofensiva que acabou por matar grande parte do topo da hierarquia militar do Hezbollah, que Haytham Abu Ali Tabatabai ascendeu à chefia de toda a cadeia militar do grupo. Como chefe militar do Hezbollah — assumindo funções pouco antes de ter sido assinado o cessar-fogo entre o Líbano e Israel —, o comandante focou-se em reunir as forças armadas do grupo xiita com o objetivo de as reabilitar para um futuro conflito com as tropas de Telavive.