O que tradicionalmente era um período mais tranquilo para os consultórios pediátricos, o fim do ano virou sinônimo de alta demanda. Ao invés das consultas de rotina para acompanhar crescimento e desenvolvimento infantil, o que tem lotado as agendas dos pediatras são bebês e crianças pequenas com quadros virais, pneumonias complicadas e até bronquiolite causada por Covid-19.

A mudança no comportamento dos vírus, intensificada após a pandemia, somada ao atraso vacinal e à exposição precoce em creches, desenha um cenário de preocupação para especialistas. “Nunca vimos tantos quadros graves persistirem tão tarde no ano”, afirma o pediatra João Paulo Weiand.

Segundo ele, viroses respiratórias que já deveriam ter reduzido sua presença seguem intensas, entre elas, também a influenza, ainda muito presente entre crianças não vacinadas. “A gripe deveria praticamente desaparecer nessa época, mas a baixa cobertura vacinal permite que o vírus continue circulando”, explica.

Covid-19 ainda impacta bebês

Entre as surpresas do ano, está o número de casos de Covid-19 em crianças pequenas e até em bebês internados em UTI com bronquiolite causada pelo vírus. Os quadros mais leves, segundo Weiand, provavelmente passam despercebidos e são classificados apenas como “viroses comuns”.

A bronquiolite segue como um dos principais desafios do período. Antes concentrada entre março e agosto, ela agora persiste além do previsto. “Continuamos vendo bebês pequenos, inclusive abaixo de um mês de vida, chegando com bronquiolite. As UTIs seguem lotadas”, relata.

Outro fenômeno observado são pneumonias complicadas, com derrame e destruição de partes do pulmão, aparecendo meses depois do habitual. “Normalmente esse pico ocorre junto com as bronquiolites. Mas neste ano ele veio mais tarde, mantendo a ocupação da UTI sempre alta.”

Nas creches

Para o pediatra, o intenso fluxo de vírus tem relação direta com a rotina moderna das famílias. “As escolinhas não fecham mais como antigamente. As crianças ficam o ano todo, e a creche é o ambiente onde os vírus mais circulam”, afirma.

Ele destaca que os bebês, especialmente aqueles que entram muito cedo, enfrentam uma carga viral elevada em um período em que o sistema imunológico ainda é imaturo. O resultado são quadros sucessivos: febre a cada duas semanas, infecções de repetição e mais risco de complicações como otites.

Ainda, o Rio Grande do Sul registrou em 2025 um aumento de casos de meningite meningocócica, com surtos de meningococo B na Serra e meningococo Y no Sul do estado. O número de casos superou os anos anteriores.

A constatação levou o Ministério da Saúde a ajustar o calendário: a vacina ACWY passa a ser aplicada aos 12 meses como reforço, além de seguir indicada aos 11 anos para reduzir a circulação entre adolescentes.