Catarina Martins, candidata apoiado pelo Bloco de Esquerda, e Henrique Gouveia e Melo, apoiado por vários nomes de diferentes partidos e setores, defrontaram-se este domingo na SIC naquele que é foi o quarto debate do ciclo de 28 para a corrida à Presidência.

Henrique Gouveia e Melo começou o debate, após ser questionado sobre a lei laboral, desviando-se da questão com um comentário às ligações partidárias de Catarina Martins. Afirma que há “um oceano de diferenças” entre ambos.

“A senhora deputada parece-me que vem a estas eleições numa lógica partidária. Tem um pé aqui e um pé em Bruxelas, eventualmente o seu pé de recuo, olha para a Constituição da República de forma assimétrica , porque disse que se o Chega ganhasse eleições tentaria evitar, a todo o custo, que fizesse Governo. É uma declinação sofisticada, na minha modesta opinião, do marxismo ou leninismo”, começou por atirar.

Em oposição, garante, está a sua candidatura que “é suprapartidária e independente”: “Quero unir os portugueses, tenho os dois pés aqui sem recuo nenhum.”

A declaração não ficou sem resposta. A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu que era “verdade” que não iria “falar nesta campanha de dar posse a um Governo da extrema-direita”.

“Era o que mais faltava, até porque eu sei que se for eleita Presidente, há uma maioria que é contra a extrema-direita e a extrema-direita nunca vai ser Governo. Eu estou aqui para falar da liberdade e não para falar dos sonhos ‘Salazarentos’ de André Ventura e as suas tropelias” , sublinhou a candidata.

A antiga coordenadora bloquista deixou ainda claro que ninguém a diminuiria por ter sido eleita: “Tive confiança popular, tenho escrutínio popular e também ninguém me diminui pelo que eu faço”.

Seguiu-se uma acusação ao almirante por não ser tão independente quanto afiança, deu a entender a candidata, uma vez que foi almoçar com “um magnata” como André Ventura, líder do Chega. Gouveia e Melo, por sua vez, justificou que “todos temos de conhecer os atores políticos” e que foi nesse sentido que aceitou o almoço.

Sobre a posição política de Gouveia e Melo, Catarina Martins afirma que, perante as opiniões diversas do adversário, não consegue entender onde se encaixa o almirante.

Código do Trabalho: a resposta de Gouveia e Melo e as críticas de Martins ao Governo

A discussão sobre a independência ou não dos candidatos tomou parte do início do debate, mas as diferenças entre ambos não se ficaram por aí. Respondendo à pergunta de Clara de Sousa sobre qual seria o primeiro direito que nunca poderia ser mexido na lei laboral, Gouveia e Melo acusou a necessidade de haver mudança, ainda que preservando “os direitos dos trabalhadores” na “maior extensão possível porque queremos uma economia que se desenvolva, mas com coesão social”.

Quanto ao que se deve flexibilizar, Gouveia e Melo defendeu “um conjunto de medidas em que a nova economia – por exemplo a economia digital – exige algumas alterações”. O que não pode ser mudado, acaba por afirmar são direitos que causem precariedade nos trabalhadores.

Já Catarina Martins é mais crítica na resposta. Sobre o Código de Trabalho, a candidata afirma que aquilo que o Governo propõe é “pagar menos pelas horas extraordinárias”, o que quer dizer que “as pessoas que precisam das horas extraordinárias para chegarem ao fim do mês porque os salários são curtos, vão ter um corte de salário”.

Acrescenta ainda que, no caso dos jovens, este pacote trará maior dificuldade em ter um contrato de trabalho com vínculo permanente como se “ser jovem significasse que se pode estar sempre a prazo”.

Os jovens terão ainda mais obstáculos em conseguirem estabilidade profissional e, consequentemente, estabilidade pessoal por terem também maiores entraves ao conseguir, por exemplo, um crédito à habitação.

Martins acrescenta ainda que isto afeta mais trabalhadores do que apenas aqueles que precisam das horas de trabalho ou de um contrato estável.

“Quem até foi progredindo na sua carreira poderá baixar de posição e, portanto, de salário, porque o patrão quer” , indica a ex-coordenadora bloquista apelando ao “cuidado” com este novo pacote laboral.

O diagnóstico do almirante sobre a saúde e o “improviso” porque não há acompanhamento

No que diz respeito à saúde, Gouveia e Melo defende que “o que está a acontecer” não é “falta de recursos porque têm aumentado muito”, mas o problema reside na “organização interna e responsabilização”.

“Podemos ter os recursos todos neste modelo que não vamos ter os resultados que desejamos. (…) Qual é o destino que queremos para o SNS? Porque isso não está claro nesta governação e o Presidente pode ajudar a esclarecer”, argumenta.

Por sua vez, Catarina Martins defende que é preciso olhar para as questões que temos hoje de “outra forma” e não defender “o que tivemos nem defender quem dá dinheiro aos privados porque têm ficado com muito dinheiro e não fizeram nada de jeito”.

Mas Gouveia e Melo diagnostica outro problema que vai além da saúde: “há em Portugal uma cultura de improviso e falta de rigor e temos de mudar isso.” Um “improviso” que, explica a candidata apoiada pelo Bloco, tem uma razão de ser.

Improvisa-se muito na saúde porque como as pessoas não têm acompanhamento, vai tudo parar às urgências e como não uma despesa estrutural do Estado nos próprios profissionais do SNS, depois precisa de tarefeiros para as urgências “, afirma defendendo que é preciso conseguir que as pessoas vão menos às urgências – através de maior acompanhamento – e dar condições aos profissionais de saúde, nomeadamente, “mexendo nas carreiras”.

Gouveia e Melo acaba por defender a descentralização da saúde para que os hospitais sejam sítios de urgências e não de consultas que possam ser feitas noutras unidades de saúde.