No extremo sul do Japão existe um lugar onde o tempo parece avançar em outro ritmo e onde seus habitantes acumulam a maior longevidade do planeta. Em Okinawa, um conjunto de ilhas banhadas pelo Pacífico, as estatísticas intrigam cientistas há décadas. A comunidade abriga uma das maiores concentrações de pessoas com mais de 100 anos do mundo, muitas delas com vitalidade física e lucidez mental que desafiam o avanço da idade.
Para cada 100 mil habitantes de Okinawa, 67 ultrapassam o século de vida com folga. A taxa está muito acima das médias globais e desperta interesse pela combinação de longevidade e qualidade de vida. Grande parte desses idosos mantém autonomia, mobilidade e clareza cognitiva até os anos finais, formando um retrato raro em escala mundial.
Diversos estudos tentaram desvendar o que sustenta esse fenômeno. Entre fatores culturais, sociais e genéticos, um elemento da dieta se destaca pela simplicidade e poder nutricional: a batata-doce, especialmente a variedade roxa conhecida como beni imo. O tubérculo, originário das Américas, ganhou protagonismo na culinária local e se tornou um dos pilares energéticos e nutricionais da população okinawana.
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A nutricionista Laura Jorge, em análise publicada pela revista Men’s Health, destaca que a alimentação de Okinawa segue padrões que priorizam alimentos naturais. A presença de laticínios é mínima e óleos processados raramente fazem parte das refeições diárias. A batata-doce encaixa-se de maneira quase perfeita nesse estilo de vida. O alimento é consumido em versões doces e salgadas e fornece energia constante, fibras e vitaminas sem provocar picos de glicose que sobrecarregam o organismo.
A variedade que domina as mesas locais, o beni imo, chama atenção pela cor roxa intensa, resultado dos mesmos pigmentos antioxidantes presentes em frutas como o mirtilo. Essa coloração vibrante indica a alta concentração de nutrientes. Uma porção do tubérculo pode conter até quatro vezes a dose diária recomendada de vitaminas A e C, nutrientes essenciais para o sistema imunológico, a saúde dos olhos e o bom funcionamento celular.
Além disso, a batata-doce roxa é rica em fibras, que favorecem a saúde intestinal, e oferece carboidratos complexos de alta qualidade. Cada porção possui cerca de 22 gramas desse tipo de carboidrato, o que garante energia sustentada para as atividades do dia, além de quase 2 gramas de proteína, componente fundamental para a manutenção dos tecidos corporais.
As folhas da planta, em formato de coração, são pouco consumidas, mas a polpa roxa do tubérculo é o verdadeiro tesouro nutricional. Ela se tornou parte indissociável da culinária local. O beni imo aparece em pratos tradicionais, sobremesas e lanches, sempre respeitando a lógica alimentar de Okinawa, baseada em moderação, variedade e equilíbrio energético.
O conjunto desses fatores ajuda a entender por que um alimento tão simples ocupa um papel tão central na dieta de uma das populações mais longevas do planeta. Em Okinawa, a batata-doce não é apenas comida. Ela é símbolo de uma relação harmoniosa entre cultura, nutrição e estilo de vida que o mundo inteiro tenta decifrar há décadas.