Têm-se multiplicado imagens nas redes sociais com homens a serem arrastados pelas ruas até carrinhas. São veículos que os vêm buscar para os forçar a juntarem-se às Forças Armadas
A Ucrânia está sem gente e sem armas para fazer face a uma ofensiva continuada da Rússia durante este verão, que até já trouxe frutos como a conquista de Chasiv Yar e o cerco a Pokrovsk, duas cidades-chave na região de Donetsk.
É por isso que Kiev está a tentar tudo para recrutar homens para o exército, mas o prolongar da guerra está a tornar todo o processo difícil. É por isso que as autoridades ucranianas estão empenhadas em melhorar as práticas de recrutamento, procurando atrair todos aqueles que queiram participar na resistência à Rússia.
O presidente ucraniano continua a resistir aos pedidos do Ocidente para baixar a idade de recrutamento, atualmente fixada em 25 anos, abaixo dos 27 com que se iniciou a guerra.
Entende Volodymyr Zelensky que não se deve sacrificar o futuro da próxima geração por causa desta guerra, mas isso traz consequências numa linha da frente esgotada em quase todos os mil quilómetros de extensão.
Vídeos partilhados nas redes sociais mostram ucranianos a serem apanhados nas ruas e depois brutalmente atirados para dentro de carrinhas, enquanto os locais vão criticando as ações do exército no ato da recruta.
Everything you need to know about mobilization in Ukraine:
Ukraine kidnaps them and sends them to the front—Russia finds them on the fields, bags them, and returns them to their owners.
pic.twitter.com/EmycKUuSRY— Gabe (@GabeZZOZZ) July 17, 2025
Em Kiev garante-se que foi aberta uma investigação à morte de um homem na cidade de Mykolaiv, a sul, que saltou de um ponte durante uma fuga a responsáveis de um exército que tentavam forçá-lo a juntar-se às Forças Armadas.
“A mobilização não devia ser um choque para as pessoas”, afirmou o chefe das Forças Armadas, Oleksandr Syrksky, em declarações aos jornalistas em junho. Mas os centros de recrutamento também “não deviam permitir esses acontecimentos vergonhosos”, acrescentou.
E foi por isso que o homem forte da resistência ucraniana pediu mais transparência em todo o processo, garantindo que se vai avançar para a punição de oficiais militares em casos de mobilização ilegal. Os centros de recrutamento também receberam um documento de 50 páginas com regras de civismo e métodos para interagir com os civis nas ruas.
O problema é que, apesar de todas essas medidas, os vídeos continuam a surgir nas redes sociais. O caso do homem empurrado em Odessa levou o ministro da Defesa a ser questionado no parlamento. Denys Shmyhal garantiu que a mobilização está a correr “como planeado”, mas avisou que é preciso “qualidade na gestão do exército, confiança nos comandantes e na liderança militar”.
Em muitos dos vídeos é possível ver civis, incluindo mulheres, a tentarem impedir que lhes levem os maridos e filhos. Foi o que aconteceu na cidade de Vinnytsia, onde cerca de 80 pessoas se juntaram perto de um estádio para exigir a libertação de todos os homens que foram levados para aquele local para receberem treino militar.
De acordo com a Procuradoria-Geral, mais de 500 casos de obstrução às atividades militares foram abertos nos primeiros seis meses deste ano, num aumento brutal em relação aos 200 casos registados no mesmo período de 2024.
Outro caso de resistência ocorreu em julho na cidade de Poltava, onde um grupo de locais bloqueou uma carrinha que transportava cidadãos mobilizados para um centro de treinos.
Incidentes deste género têm-se espalhado e multiplicado pelo país – às vezes até com populares a furarem os pneus das carrinhas que levam os civis -, numa altura em que a Ucrânia necessita de unidade para resistir a uma altura mais difícil, enquanto não há luz verde ao acordo entre Estados Unidos e NATO para o envio de novo armamento.
Do lado ucraniano, apesar de se admitir, aqui e ali, alguns problemas, também se acusa a Rússia de amplificar estes casos, falando mesmo em “manipulação” de imagens. Em paralelo, Moscovo adotou, em junho, uma tática de ataque com drones aos campos de recrutamento, o que também desencoraja as novas pessoas a juntarem-se ao processo.
De acordo com um inquérito realizado pela agência de pesquisa Info Sapiens em abril de 2025, 77% dos ucranianos não acreditam nas práticas de recrutamento, embora a esmagadora maioria se mostre confiante nas Forças Armadas como um todo.