O tamanho real da crise da dor de cabeça
O maior levantamento já feito sobre o tema, publicado na revista científica The Lancet Neurology, mostra que 2,9 bilhões de pessoas sofreram com dor de cabeça em 2023.
Isso coloca as cefaleias como a sexta maior causa de anos vividos com incapacidade no planeta. Em termos simples: não é só dor, é perda real de qualidade de vida.
Os números impressionam:
– 34,6% da população mundial tem algum tipo de dor de cabeça
– 24,9% sofrem de cefaleia tensional
– 14,1% enfrentam enxaqueca
Apesar de afetar menos pessoas que a cefaleia tensional, a enxaqueca é responsável por cerca de 90% de toda a incapacidade gerada pelas dores de cabeça, por ser mais intensa, duradoura e incapacitante.
Por que a enxaqueca atinge mais as mulheres
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O estudo mostra um recorte claro: as mulheres sofrem mais — e por mais tempo.
Mulheres com enxaqueca passam, em média, de 9,3% a 12,7% do ano com dor. Entre os homens, esse número cai para algo entre 6,3% e 8,6%.
A explicação está, em grande parte, nas flutuações hormonais ao longo da vida feminina. Menstruação, uso de anticoncepcionais, gravidez e menopausa influenciam diretamente a frequência das crises.
Além disso, segundo os pesquisadores, as mulheres não apenas têm mais enxaqueca, mas passam mais dias do ano em estado sintomático — o que aumenta o impacto na vida pessoal e profissional.
O perigo escondido no uso excessivo de medicamentos
Um dos pontos mais alarmantes do estudo é o impacto do uso excessivo de medicamentos.
O problema acontece quando a pessoa toma analgésicos com muita frequência para tratar dor de cabeça. Em vez de ajudar, isso faz o efeito contrário: o remédio perde eficácia e a dor se torna mais frequente e mais intensa.
Analgésicos comuns, anti-inflamatórios e até medicamentos específicos, como triptanos, quando usados em excesso, podem criar um ciclo vicioso difícil de quebrar.
Segundo os dados:
– Mais de 20% da incapacidade causada por dor de cabeça está ligada ao uso excessivo de medicamentos
– Na cefaleia tensional, esse número chega a incríveis 58%
– Em homens, o impacto é ainda mais alto
Ou seja, o que era para aliviar a dor acaba transformando crises pontuais em quadros crônicos.
O cenário da enxaqueca no Brasil
O problema também é gigantesco por aqui. A Organização Mundial da Saúde estima que 32 milhões de brasileiros sofram de enxaqueca.
E o impacto vai muito além da dor. Quem convive com crises frequentes relata:
– queda de rendimento no trabalho
– dificuldade de foco
– problemas de memória
– isolamento social
– custos com consultas, exames e medicamentos
A dor de cabeça frequente vira um problema de produtividade, de saúde mental e também financeiro.
O que pode realmente ajudar a reduzir esse problema
Segundo os pesquisadores, a saída não é tomar mais remédios — e sim estruturar melhor o tratamento.
Eles defendem:
– Mais acesso a terapias preventivas
– Orientação sobre o uso correto de medicamentos
– Integração do tratamento na atenção primária
– Educação de pacientes e profissionais de saúde
Hoje, tratamentos eficazes já existem. O problema é que eles não chegam à maioria das pessoas que sofrem com enxaqueca ou com crise crônica de dor de cabeça.
Um alerta que não dá mais para ignorar
Os dados deixam claro que a dor de cabeça deixou de ser um problema individual e virou uma questão global. A enxaqueca segue como uma das doenças mais incapacitantes do mundo. E o uso excessivo de medicamentos está transformando dores controláveis em sofrimento constante.
Se antes isso era visto como algo comum, o novo cenário é um alerta: tratar do jeito errado pode piorar tudo.
A pergunta que fica é simples — e urgente: você está cuidando da sua dor ou só tentando silenciá-la?
[Fonte: Correio Braziliense]