O presidente do Irão, Fatemeh Amuzad. Ao fundo, a capital do país, Teerão, que enfrenta a pior seca das últimas décadas

O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, declarou na quinta-feira que, se não chover em breve, o país terá de transferir a sua capital, sede do poder persa desde 1786, para outro local: “a realidade é que já não temos escolha; é uma obrigação”.

Com cerca de 9 milhões de habitantes e mais de 15 milhões na área metropolitana, a atual capital do país, Teerão, a terceira cidade mais populosa do Médio Oriente e a 23.ª maior cidade do mundo, enfrenta atualmente a pior seca das últimas décadas.

A crescente escassez de água que assola há meses a região é provocada, segundo os especialistas, por uma conjugação de fatores, incluindo mudanças ambientais, agricultura industrial intensiva e um crescimento populacional insustentável.

Tudo indica que a crise veio para ficar: milhões de pessoas confrontam-se com torneiras secas, numa região que atravessa o 6º ano consecutivo de seca — após aquele que é agora o verão mais quente dos últimos 60 anos.

Segundo a agência oficial iraniana Irna, numa tentativa desesperada de induzir o aparecimento de algumas gotas de chuva, as autoridades iranianas começaram na semana passada a pulverizar nuvens com produtos químicos sobre a bacia do lago Urmia — um processo conhecido como “semeadura de nuvens“.

O Urmia é o maior lago do Irão, mas está praticamente seco, deixando exposta uma vasta crosta de sal. Segundo a mesma agência, novas operações serão realizadas nas províncias do Azerbeijão Oriental e Ocidental. A pluviosidade está em mínimos históricos e as albufeiras estão quase vazias, nota a BBC: o nível da água na barragem de Amirkabir, em Teerão, está a 8% da capacidade.

Na semana passada, o presidente Masoud Pezeshkian alertou que, se não chover em breve, a água de Teerão poderá ser racionada e a população poderá ter de ser evacuada da capital.

“Quando dissemos que tínhamos de mudar a capital, nem sequer tínhamos orçamento suficiente. Se o tivéssemos, talvez já estivesse feito. A realidade é que já não temos escolha; é uma obrigação“, afirmou Pezeshkian, recordando um aviso que tinha deixado no início de novembro. “Proteger o ambiente não é uma brincadeira. Ignorá-lo é assinarmos a nossa própria destruição“.

Teerão é sede do poder persa desde 1786, escolhida pela sua localização geográfica e pelo acesso a importantes rotas comerciais.

Embora vários países tenham mudado as suas capitais por diferentes razões nas últimas décadas, como é o caso da Indonésia, que vai construir uma nova capital no meio de uma floresta porque Jacarta está a afundar, uma transferência forçada para evitar uma crise hídrica não tem precedentes na história moderna.

Em situações como esta, as populações não sofrem de forma proporcional. Como assinalou o Global Water Forum num relatório de 2022, são as populações urbanas de baixos rendimentos que suportam o peso das crises de escassez de água.

Apesar de as autoridades terem pedido aos iranianos que reduzam o consumo em 20%, segundo a Al Jazeera a água usada pelas famílias representa apenas 8% do total consumido no país.

Mesmo que as autoridades iranianas avancem com a mudança da capital, trata-se provavelmente de um processo que demorará anos — e qualquer alívio resultante de uma eventual redução do consumo de água chegará demasiado tarde.


Subscreva a Newsletter ZAP


Siga-nos no WhatsApp


Siga-nos no Google News