Publicado 24/11/2025 05:00

Eliana Mendonça já exerceu várias atividades: foi professora, dirigente de arquivos públicos, subsecretária da Secretaria de Administração, gestora pública e assessora de gabinetes legislativo e executivo. A historiadora também escreveu artigos para revistas nacionais e internacionais, foi coordenadora de publicações da Administração Pública e é autora de cinco livros. Fundou o Instituto Dé Mendonça Lúpus Care, sem fins lucrativos, como homenagem à filha que faleceu com a doença, cuja herança foi investida na entidade.

SIDNEY: A Sociedade Brasileira de Reumatologia estima que cerca de 150 mil brasileiros têm lúpus. Como é essa doença?

ELIANA MENDONÇA: O lúpus eritematoso sistêmico, ou simplesmente lúpus, é uma doença crônica e inflamatória em que o sistema imunológico ataca as próprias células e tecidos do corpo, afetando múltiplos órgãos como articulações, pele, rins e cérebro. A causa é predisposição genética, mas a doença pode ser desencadeada por fatores ambientais como a irradiação ultravioleta.

Quais são os tipos de lúpus?

Existem dois tipos mais conhecidos da doença: o lúpus sistêmico, que afeta órgãos internos como coração, rins, articulações, sistema nervoso central etc, e o lúpus discoide, que causa danos à pele.

A doença se manifesta com quais sintomas?

Os sintomas do lúpus são comuns a outras doenças: dor nas articulações, fadiga, febre baixa, manchas na pele, feridas na boca, pressão alta, dentre outras. Uma das características mais marcantes são as erupções cutâneas, como uma vermelhidão em forma de borboleta no rosto – por esse motivo é o símbolo do lúpus. O diagnóstico é muito difícil. Em muitos casos, pode levar até um ano ou mais. A especialização que trata da doença é a Reumatologia. Atualmente, a Odontologia foi autorizada a fazer o tratamento das manifestações bucais.

É verdade que a doença atinge mais as mulheres?

Sim, o lúpus atinge preferencialmente as mulheres, sendo que negras e pardas representam o maior índice. A faixa etária predominante é na fase reprodutiva da mulher, entre 20 e 46 anos. No entanto, a doença pode se manifestar em qualquer idade.

Como surgiu a ideia de criar o Instituto Dé Mendonça Lúpus Care?

O Instituto surgiu em 2018 em homenagem à minha filha Daniela Mendonça, que faleceu de lúpus em 2017, com 50 anos. Daniela foi uma guerreira que lutou desde os 15 anos contra a doença e nos inspirou pela forma otimista que conduziu sua vida. A partir dessa data, criamos o Instituto com a finalidade de apoiar as pessoas com essa enfermidade. Cerca de 380 pessoas cadastradas são atendidas em suas necessidades básicas, como medicamentos, apoio psicológico, nutricional e outros, e na defesa de seus direitos. Temos mais de 5 mil seguidores no Instagram. Na pandemia, foram distribuídos cerca de 16 mil comprimidos do medicamento que havia desaparecido do mercado, duas mil máscaras e 5 mil sabonetes líquidos.

No Rio de Janeiro se tem conhecimento médico e estrutura de saúde para tratar da doença?

Na capital existem, na rede pública de saúde, médicos altamente capacitados para tratar o lúpus. Tem os hospitais federais dos Servidores, Clementino Fraga-Fundão e Lagoa, além do Hospital estadual Pedro Ernesto.

O lúpus tem cura?

Os corticoides e os imunossupressores são os tratamentos mais comuns, mas atualmente já existem medicamentos próprios para a doença que foram aprovados recentemente pela Agência Nacional de Saúde. No entanto, ainda não foram disponibilizados no SUS. É essencial evitar a exposição ao sol, usar protetor solar diariamente e vestir roupas de manga comprida porque a radiação ultravioleta pode desencadear ou piorar os sintomas. O lúpus não tem cura, mas tem tratamento.