Uma questão de mostrar “caráter” e “de seriedade”. É assim que a candidatura de Luís Marques Mendes exige que João Cotrim Figueiredo revele, afinal, de onde surgiram as pressões para desistir da corrida, e que alegou terem vindo do lado de Mendes. Com o candidato liberal a dar o caso por encerrado, o diretor de campanha de Mendes, Duarte Marques, recusa fazê-lo e insiste: “Cotrim tem de dizer quem o pressionou, quando e onde. Não se levanta uma suspeita destas sem concretizá-la. E quem não se sente não é filho de boa gente”.
Em declarações ao Observador, o diretor da campanha do antigo líder do PSD considera que este é um assunto “muito sério”, mostrando-se “desiludido”, “surpreendido” e até “magoado” com a atitude de Cotrim, que não especificou quem seriam os autores das pressões a que aludiu numa entrevista ao Expresso.
“Acho que há algum deslumbramento e também alguma arrogância. E sobretudo chateia-me, desilude-me, mas sobretudo revela que às vezes aqueles que mais pugnam por modernizar a política, por trazer novos valores à política e por fazer diferente, à primeira oportunidade caem logo no erro de fazer aquilo que mais afasta as pessoas da política, a prevaricar e a usar os truques do passado que mais afastam as pessoas”, argumenta o social democrata.
A troca de acusações serve também a Marques para falar de alguns dos valores que a campanha tem associado a Mendes e ao seu perfil: “Para nós, esta é uma questão de caráter. Luís Marques Mendes é uma pessoa de caráter que faz política pela positiva e um tema destes é um tema que magoa, e portanto, como pessoas de bem, exigimos que o Cotrim Figueiredo explique e esclareça aos portugueses — esse sim é um ato de coragem”.
Até porque, insiste o diretor de campanha, se alguém fez de facto essas pressões junto do liberal era alguém que “não estava mandatado para isso, não foi em nome de Marques Mendes”, e até por isso quer que o assunto fique resolvido. “Quando as insinuações não são concretizadas não passam de insinuações e são um ato de cobardia, que em política é muito feio. Esperávamos mais, temos em boa conta as pessoas que estão envolvidas”.
Daí que, para esta candidatura, só haja duas saídas: responder com “total transparência” ou “pedir desculpa”. Mas Duarte Marques dá ainda mais um passo no raciocínio: um golpe “tão baixo” numa campanha que tem sido “digna” enquadra-se na constatação que faz de que Cotrim tem protagonizado ” alguma aproximação a algumas técnicas, a algum discurso, a algumas posições mais típicas, por exemplo, de André Ventura e do Chega”. Possivelmente por uma tentativa de competição eleitoral entre o eleitorado dos dois candidatos, admite.
Marques Mendes já tinha reagido à acusação de Cotrim considerando que o “desespero” e os “ataques pessoais” de outros candidatos, nomeadamente o liberal, surgem agora porque está a crescer nas sondagens. Já o liberal veio dizer que o objetivo de denunciar essas pressões foi que “parassem e isso funcionou”: “Portanto, para mim esse assunto está encerrado. Deixou de haver pressões porque perceberam que esta candidatura é para ir até ao fim, porque tem o seu espaço próprio, não está refém de mais nenhuma estratégia ou candidatura”, disse durante o fim de semana.