Vírus ancestral revela estrutura semelhante à de patógenos respiratórios atuais (Imagem: Gerada por IA/ Gemini) Fala Ciência
A investigação sobre vírus que existiram há centenas de milhões de anos está revelando conexões inesperadas com os patógenos que afetam a saúde humana hoje. Entre esses ancestrais, os vírus espumosos, considerados a linhagem mais antiga de retrovírus, ganharam destaque por exibirem estruturas que se assemelham às de vírus respiratórios modernos, incluindo agentes altamente conhecidos na medicina atual.
Embora sejam antigos, esses retrovírus chamam atenção não apenas pelo que representam na história evolutiva, mas também pelo que podem oferecer para o futuro da biotecnologia. Seu comportamento, até agora enigmático, começa a ser compreendido com maior clareza graças a técnicas modernas de imageamento. Logo no início da pesquisa, alguns pontos se destacaram:
- Origem antiga, datada de cerca de 450 milhões de anos;
- Capacidade de inserir material genético diretamente no DNA da célula;
- Ausência de doenças conhecidas associadas à infecção;
- Potencial para terapias genéticas de nova geração;
- Semelhanças estruturais com vírus respiratórios patogênicos
Quando o passado ilumina tecnologias do futuro
Os vírus espumosos são capazes de infectar tipos variados de células sem causar enfermidades, o que os torna candidatos ideais para aplicações biotecnológicas. Como retrovírus, são especialistas em integrar seu material genético ao genoma da célula hospedeira, uma habilidade essencial para diversas abordagens de terapia gênica, especialmente no tratamento de doenças hereditárias e de certos tipos de câncer.
Retrovírus antigo expõe ligação inesperada com infecções modernas (Imagem: Instituto Francis Crick)
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Contudo, para transformar esse potencial em realidade clínica, é indispensável entender, em detalhe, como esses vírus realizam a infecção. É aqui que tecnologias avançadas, como a microscopia eletrônica criogênica (crioEM), desempenham papel central ao permitir a visualização de estruturas virais em três dimensões com precisão atômica.
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Uma ligação estrutural inesperada
A recente análise, descrita na revista Cell, revelou que as proteínas presentes na superfície dos vírus espumosos compartilham características estruturais com proteínas usadas por vírus respiratórios patogênicos para invadir células humanas. Entre eles estão agentes que já causaram epidemias e surtos importantes, como SARS-CoV-2, vírus sincicial respiratório (VSR) e vírus do sarampo.
Essa semelhança sugere que mecanismos desenvolvidos há centenas de milhões de anos persistem, de forma adaptada, em vírus modernos. A descoberta fornece pistas valiosas para duas frentes simultâneas:
- aprimorar o desenvolvimento de terapias virais seguras, baseadas em retrovírus antigos;
- identificar novos caminhos para bloquear infecções respiratórias, já que estruturas semelhantes podem responder a estratégias semelhantes de neutralização.
Impactos para a pesquisa biomédica
Ao revelar que a evolução viral recicla estratégias ao longo de eras inteiras, esses achados reforçam a importância de estudar estruturas ancestrais para compreender ameaças atuais. Além disso, ampliam o uso potencial dos vírus espumosos como plataformas de tratamento, acelerando a criação de vetores mais eficientes e seguros.
A combinação entre tecnologia de ponta e virologia evolutiva está redesenhando a forma como entendemos a origem e o funcionamento dos vírus, do passado remoto às emergências sanitárias do presente.