A tuberculose, infecção causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, é conhecida por afetar principalmente os pulmões, mas também pode impactar outras partes do corpo. No entanto, um caso recente na Irlanda trouxe à tona uma manifestação extremamente rara da doença: a infecção peniana. O relato foi publicado em 20 de novembro na revista ASM Case Reports.

Um homem de 57 anos buscou atendimento em um hospital de Dublin após uma semana enfrentando dor intensa, vermelhidão e inchaço na região genital, acompanhados de febre alta. A equipe médica prontamente o internou, levando em consideração seu histórico médico, que incluía um transplante renal realizado quinze anos antes e o uso contínuo de medicamentos imunossupressores, fatores que aumentam o risco de infecções.

Os primeiros exames indicaram celulite genital, uma infecção bacteriana comum, e os médicos iniciaram o tratamento com antibióticos tradicionais. Contudo, a condição do paciente se deteriorou rapidamente, resultando na necessidade de uma avaliação especializada em doenças infecciosas, segundo informações da revista Galileu.

Durante a revisão do histórico clínico, foi notado que o homem apresentava há três meses sintomas clássicos da tuberculose, como febre persistente, calafrios, sudorese noturna intensa, perda de peso significativa e falta de apetite. Ele também tinha um histórico de contato frequente com animais mortos, tendo crescido em uma área rural e trabalhado como açougueiro e caçador.

Após realizar tomografias do tórax e da pelve, os médicos identificaram nódulos nos pulmões compatíveis com tuberculose miliar — uma forma grave da doença em que a bactéria se dissemina pelo organismo. Embora a infecção urogenital seja rara e casos penianos representem menos de 1% dos casos dessa natureza, a combinação da imunossupressão do paciente com a infecção pulmonar tornou essa hipótese mais plausível. Testes subsequentes confirmaram a presença de micobactérias no trato respiratório e no tecido peniano.

O tratamento para tuberculose requer um regime prolongado de múltiplos antibióticos. O paciente foi submetido a um tratamento com quatro medicamentos ao longo de 12 meses, cuidadosamente selecionados para não interferir no funcionamento do rim transplantado. Apesar das dificuldades iniciais e da formação de uma úlcera necrótica no pênis que exigiu remoção cirúrgica de tecido necrosado, após dez meses o quadro clínico se estabilizou e a recuperação foi considerada satisfatória.

A origem da infecção ainda é incerta. O paciente não teve contato com pessoas diagnosticadas com tuberculose nem frequentou locais de alto risco. Uma possibilidade considerada pelos médicos é que a infecção tenha sido adquirida através do rim transplantado ou por meio do contato com cervos e vacas, que podem transmitir M. bovis durante atividades relacionadas à caça ou manipulação de carcaças.

A dúvida persiste sobre se a infecção teve início nos pulmões antes de afetar o pênis ou vice-versa. O caso também remete a relatos anteriores envolvendo profissionais que manipulam cadáveres, onde a bactéria pode penetrar pela pele lesionada. Historicamente, há registros raros de transmissão sexual da tuberculose.

Apesar da gravidade do caso, os médicos responsáveis afirmam que todos os registros disponíveis sobre tuberculose peniana indicam respostas positivas ao tratamento, incluindo o caso irlandês.


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.