Anualmente ocorre o Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), que oferece oportunidade para atualização de conhecimentos e discussão dos diversos temas que compõem essa especialidade tão abrangente.
Em 2025, o congresso foi realizado em Goiânia (Goiás) entre os dias 13 e 16 de novembro e contou com a participação das principais referências brasileiras, além de alguns convidados internacionais.
Entre os assuntos mais comentados, destacaram-se o uso de imunobiológicos nas doenças alergoimunológicas, os avanços no diagnóstico e tratamento das alergias alimentares, a importância da genômica no diagnóstico e manejo dos erros inatos da imunidade e novidades recentes na área, como a última publicação da Iniciativa Global para Asma (Global Initiative for Asthma – GINA).
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Imunobiológicos e pequenas moléculas nas doenças imunoalérgicas
A cada ano, surgem novos medicamentos voltados ao tratamento das doenças imunoalérgicas no contexto da medicina de precisão e fármacos já conhecidos recebem novas indicações. Durante o congresso, diversas aulas abordaram dados de eficácia e segurança do recém-chegado anticorpo monoclonal lebrikizumabe, direcionado ao receptor alfa da IL-13, indicado para o tratamento da dermatite atópica grave.
Discutiu-se também amplamente o dupilumabe, que recentemente recebeu nova indicação em bula: tratamento da urticária crônica espontânea a partir dos 12 anos de idade. Essa indicação se soma a outras já estabelecidas, como dermatite atópica grave (a partir dos 6 meses), asma grave (a partir dos 6 anos) e esofagite eosinofílica (a partir dos 12 anos), configurando uma opção terapêutica interessante para pacientes com múltiplas comorbidades alérgicas.
O omalizumabe também recebeu destaque em várias palestras, especialmente por sua recente indicação para alergia alimentar, sobretudo como terapia adjuvante durante processos de dessensibilização, contribuindo para maior segurança e eficácia. Até o momento, essa indicação está aprovada apenas nos Estados Unidos.
Diagnóstico e tratamento de alergias alimentares
Neste ano, mais uma vez, houve discussões sobre a investigação de alergias alimentares, ressaltando-se que o exame deve ser direcionado pela suspeita clínica e que as IgEs específicas não são testes de rastreio. Quanto às plataformas singleplex (exames individuais para cada alérgeno) e multiplex (dezenas de alérgenos em paralelo), mantém-se a recomendação de utilizar plataformas multiplex apenas em casos selecionados, sobretudo em pacientes com sensibilização ou alergia a múltiplos alimentos.
No que diz respeito ao tratamento desse grupo de doenças, tem aumentado o interesse pela imunoterapia oral para alimentos, também conhecida como dessensibilização. Existem diversos protocolos disponíveis, mas, por ser um processo longo e que exige supervisão intensa, já que reações alérgicas ao longo da evolução são frequentes, ainda permanece pouco disponível. Os palestrantes apresentaram dados sobre segurança e eficácia, além de protocolos mais lentos e da possível associação da imunoterapia ao uso de omalizumabe, com o objetivo de reduzir riscos relacionados ao procedimento.
Avanços sobre erros inatos da imunidade
A genômica e o uso de imunossupressores, imunobiológicos e pequenas moléculas no diagnóstico e tratamento dos erros inatos da imunidade ganharam grande destaque neste ano.
Foram ministradas palestras sobre a interpretação de achados genéticos nesse grupo de doenças, incluindo discussões sobre como lidar com variantes de significado incerto (VUS), que devem ser analisadas com cautela. Ficou evidente durante o congresso o protagonismo crescente da genética na área e a necessidade de constante atualização, dada sua relevância no dia a dia do imunologista.
Quanto às opções terapêuticas, houve ênfase nos medicamentos já disponíveis e em suas vias de ação, como o dupilumabe e os inibidores de JAK, além de discussões sobre fármacos em estudo para ampliar o arsenal terapêutico e atender doenças ainda sem tratamento específico. Entre eles, destacaram-se o donidalorsen como possível opção para angioedema hereditário, o anti–IL-18 tadekinig alfa para doenças autoinflamatórias mediadas por essa citocina e o mavorixafor para a síndrome de WHIM.
Global Initiative for Asthma (GINA) 2025
Por fim, outro tema relevante foram as mudanças conceituais trazidas pelo GINA 2025. Anteriormente, a definição de asma na infância era vinculada à faixa etária: apenas crianças maiores de 5 anos podiam receber o diagnóstico e, consequentemente, o documento concentrava suas orientações terapêuticas nesse grupo, trazendo muito pouco conteúdo sobre crianças menores. Em março de 2025, uma atualização do GINA foi publicada, estabelecendo que crianças mais novas também podem receber o diagnóstico de asma a partir de critérios clínicos, como história de sibilância recorrente com resposta positiva ao uso de broncodilatador na ausência de outro diagnóstico provável. Com isso, o GINA passa a apresentar diretrizes para o manejo da doença nessa população.
Conclusão
O congresso foi bastante rico e denso, com aulas distribuídas em cinco salas de forma simultânea durante praticamente toda a programação. Assim, foi possível obter uma visão ampla e atualizada dessa especialidade, que engloba diversas subáreas e, por isso, confere grande complexidade ao trabalho do especialista.