Nariz de Neandertal revela semelhança com humanos modernos antigos (Imagem: Gerada por IA/ Gemini) Fala Ciência
Durante décadas, cientistas têm debatido o prognatismo médio-facial dos Neandertais, ou seja, a projeção da parte central do rosto para frente. A questão central é se essa característica evoluiu como adaptação ao frio da Europa da Era do Gelo ou se surgiu por outros motivos de crescimento e herança genética. Recentes análises de um fóssil excepcionalmente preservado, o Homem de Altamura, fornecem respostas surpreendentes.
O estudo utilizou câmeras endoscópicas e modelagem 3D para explorar a cavidade nasal do esqueleto, uma área raramente preservada. Entre as descobertas mais significativas:
- O nariz do Neandertal é semelhante ao dos humanos modernos;
- Não há evidências de estruturas ósseas especiais para aquecer ou umidificar o ar;
- A projeção facial provavelmente resulta de herança evolutiva e padrões de crescimento ósseo;
- O nariz ainda era eficiente em recuperar calor e água do ar expirado, vantagem no frio;
- Características faciais também se relacionam à necessidade de sustentar um corpo grande.
Reavaliando a função nasal dos Neandertais com o fóssil do Homem de Altamura
O Homem de Altamura, datado entre 130.000 e 172.000 anos, é um dos fósseis de Neandertal mais bem preservados do mundo. Coberto por uma camada de calcita, o esqueleto permaneceu intacto por milênios, permitindo estudos detalhados sem extração da caverna. A utilização de endoscopia e reconstrução digital possibilitou observar a anatomia interna do nariz, revelando informações antes inacessíveis.
Fóssil de Altamura ajuda a entender rosto e nariz dos Neandertais (Imagem: Projeto KARST PRIN)
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Contrariando hipóteses antigas, a análise sugere que o nariz neandertal não determinava o formato do rosto. Embora não possuísse adaptações ósseas especiais para o clima frio, ainda desempenhava papel eficiente na condição do ar inalado e exalado, ajudando na economia de calor e umidade, essencial em ambientes gelados.
Além disso, o prognatismo médio-facial parece estar mais relacionado a fatores genéticos, padrões de crescimento ósseo e necessidade estrutural de sustentar um corpo robusto, reforçando a complexidade da evolução humana.
Implicações para a paleontologia e estudo humano
A pesquisa, publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences, redefine a forma como os cientistas entendem a anatomia facial dos Neandertais. Mostra que características antes atribuídas a adaptações climáticas podem ter origens mais complexas, envolvendo herança evolutiva e biomecânica.
Além de contribuir para a compreensão dos Neandertais, o estudo oferece novas ferramentas metodológicas, como o uso de endoscopia e modelagem 3D em fósseis frágeis, abrindo caminho para análises mais precisas de outros espécimes antigos.No fim, o Homem de Altamura não apenas preservou o passado, mas também lançou luz sobre como os rostos humanos evoluíram, mostrando que nem tudo no crânio dos Neandertais é uma simples adaptação ao frio.