As comemorações dos 50 anos do 25 de Novembro, equiparadas às do 25 de Abril, reavivaram fraturas históricas na política nacional, com a esquerda a acusar a direita de pretender reescrever a História e menorizar a Revolução dos Cravos.

Depois de, no ano passado, ter havido, pela primeira vez, uma sessão solene dedicada ao 25 de Novembro na Assembleia da República, este ano o Governo deu um passo em frente e, em agosto, após um Conselho de Ministros, anunciou a criação de uma comissão para organizar as comemorações dos 50 anos do 25 de Novembro.

Além de uma sessão solene no Parlamento, cujo cerimonial será semelhante ao do 25 de Abril, a efeméride será também assinalada com uma parada militar na Praça do Comércio, em Lisboa, tal como aconteceu nas comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, em 2024.

A equiparação quase total na comemoração das duas datas – com exceção do facto de o 25 de Novembro ainda não ter sido consagrado como feriado nacional -, foi criticada unanimemente pela esquerda, que acusou a direita de querer menorizar o 25 de Abril e defendeu que as duas datas são incomparáveis.

Esta divergência manifestou-se em particular numa das últimas conferências de líderes na Assembleia da República, em outubro, na qual todos os partidos de esquerda se opuseram à proposta da IL, apoiada por CDS-PP e Chega, para que a sessão dos 50 anos do 25 de Novembro no parlamento tenha, tal como a do 25 de Abril, pendões exteriores e o mesmo número de arranjos florais – o que se vai acabar por verificar.

Agora, a poucos dias da celebração da efeméride, todos os partidos de esquerda, com exceção do PS, indicaram que não vão marcar presença na parada militar na Praça do Comércio. O PCP recusa também participar na sessão solene na Assembleia da República, à semelhança do que aconteceu no ano passado.

O PS, apesar de participar na parada militar, anunciou que vai organizar o seu próprio programa para comemorar a efeméride e recusou integrar a comissão criada pelo Governo, considerando que oculta “o papel central” de Mário Soares e tem como propósito “criar uma narrativa de confrontação e polarização”.

“O PS não pode acompanhar esta resolução do Conselho de Ministros, nem esta comissão que separa o 25 de Novembro do 25 de Abril de 1974, e fá-lo não só porque oculta o papel central de Mário Soares e do PS, mas fá-lo também porque, em grande medida, pretende reescrever a história”, acusou o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, em agosto.

Com a recusa do PS, esta comissão, presidida pelo tenente-general Alípio Tomé Pinto, foi apenas integrada por partidos de direita (PSD, Chega e IL), um dos motivos que levou um dos protagonistas do 25 de Novembro, o coronel Vasco Lourenço, a considerá-la “uma palhaçada”.

“Têm a lata de dizer que é uma comissão independente, apartidária, mas estão a brincar com quem? E, como eu digo, olhem para o espelho e envergonhem-se da cara que veem refletida no espelho. (…) Não são pessoas de bem”, acusou.

Apesar destas críticas da esquerda, a efeméride será comemorada praticamente com as mesmas honras que os 50 anos do 25 de Abril. Segundo o ministro da Defesa e líder do CDS-PP, Nuno Melo, estas comemorações permitem que o Estado cumpra “a sua obrigação em relação a uma data fundamental para a consolidação da democracia e da liberdade”.

“O 25 de Novembro devolveu ao 25 de Abril o seu propósito original. O 25 de Abril permitiu a mudança do regime com intenção de entrega do poder ao povo, e o 25 de Novembro pôs cobro à deriva totalitária e confirmou o regime democrático”, referiu Nuno Melo em agosto, quando anunciou a criação da comissão relativa ao 25 de Novembro.