Alexandros Vlachos / EPA

O ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, durante um encontro do Syriza no parlamento grego
O antigo primeiro-ministro grego Alexis Tsipras lançou esta segunda-feira o seu livro de memórias, revisitando o período em que Atenas viveu à beira do abismo na zona euro e criticando duramente o seu ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis.
Numa obra com 762 páginas, intitulada “Ithaki” (“Ítaca”), lançada esta segunda-feira, o antigo primeiro-ministro grego Alexis Tsipras percorre o seu trajecto político, defende as opções que tomou e ensaia algum exercício de auto-reflexão.
Tsipras é particularmente crítico em relação a vários antigos aliados, sobretudo o “incendiário Yanis Varoufakis“, com quem rompeu no auge da crise da zona euro em 2015.
O antigo primeiro-ministro grego admite que “subestimou o factor humano” ao escolhê-lo e sustenta que Varoufakis era “mais celebridade do que economista”.
Tsipras tinha 34 anos quando assumiu a liderança do Syriza e conduziu o partido na sua escalada eleitoral, de 4,6% em 2009 para 36,3% em 2015, recorda o Politico.
O partido de esquerda radical ganhou notoriedade em toda a Europa no auge da crise financeira de 2015, quando chegou a parecer que Tsipras e Varoufakis estavam prestes a conduzir Atenas para fora da zona euro, em negociações de alto risco com os falcões da disciplina orçamental liderados pela Alemanha na UE.
Em Julho de 2015, depois de vencer um referendo em que os gregos rejeitaram as condições de resgate propostas pela UE, uma vitória simbólica que, no essencial, pouco alterou, Tsipras acabou por inverter a posição, aceitou um novo resgate para manter a Grécia no euro e foi reeleito em Setembro desse ano.
O antigo primeiro-ministro, que deixou o cargo em 2019, repete várias vezes no livro que nunca considerou verdadeiramente uma eventual saída da Grécia da zona euro (o chamado Grexit), mas confirma que o risco era real e fazia parte do plano do então ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, numa altura em que as dificuldades orçamentais de Atenas faziam tremer a moeda única.
Tsipras escreve que Varoufakis facilitou esse cenário com a sua postura de permanente confronto e de jogo táctico à beira do precipício, até ser “afastado” do Ministério das Finanças.
“Varoufakis passou de trunfo a protagonista negativo“, diz Tsipras. “Não só os nossos potenciais aliados já não o suportavam, como os próprios colegas deixaram de o conseguir aturar”, afirma.
Tsipras acabou por se desiludir definitivamente com o seu ministro das Finanças quando Varoufakis lhe apresentou o seu “Plano B”, que passava pela introdução de uma moeda paralela baseada em vales.
“‘Em vez de darmos dinheiro a pensionistas e trabalhadores, imprimiríamos vales que poderiam usar para comprar bens e serviços’, disse Varoufakis. Quando ouvi isto, não sabia se havia de chorar ou de rir. Respondi-lhe: ‘Estás a falar a sério?’”, recorda Tsipras.
O ex-primeiro-ministro descreve ainda as tentativas de obter ajuda financeira do Kremlin. Em 19 de Junho de 2015, durante uma reunião em São Petersburgo, Tsipras sugeriu ao Presidente russo, Vladimir Putin, que fizesse um investimento simbólico de 200 a 300 milhões de euros em obrigações do Estado grego.
“A resposta dele foi honesta e brutal”, escreve Tsipras. “Vladimir Putin disse que preferia dar o dinheiro a um orfanato porque, segundo afirmou, entregá-lo à Grécia seria o mesmo que o deitar ao lixo.” O líder russo aconselhou a Grécia a chegar a um acordo com os europeus, em particular com a chanceler alemã Angela Merkel.
Em Outubro, Tsipras renunciou ao lugar de deputado e abandonou o Syriza, numa altura em que cresce a especulação de que irá formar um novo partido.