No segundo episódio do videocast da Wells, “Não fica bem falar de…”, Patrícia Lemos, educadora menstrual e consultora de fertilidade, afirma que ainda há pouca informação “valiosa” nas escolas. “Com 12 ou 13 anos, aprendemos nas aulas de ciência sobre o ciclo menstrual associado à reprodução, o que faz sentido. Mas ninguém explica porque é que o corpo começa a menstruar, nem o que isso significa do ponto de vista da saúde.”

Para a especialista, é essencial distinguir a educação sobre o ciclo reprodutivo da educação do ciclo menstrual. “Quando se educa para os processos naturais do corpo, as raparigas percebem o que está a acontecer. Deixam de ver a puberdade como algo estranho e passam a encará-la com curiosidade e entusiasmo”, explica.

Patrícia Lemos sublinha que o ciclo menstrual é um barómetro da saúde feminina. “Diz-nos muito sobre sono, alimentação, níveis de stress e equilíbrio hormonal. O problema é que raramente o olhamos assim. O corpo é uma máquina extraordinária”.

Durante anos acreditou-se que as dores menstruais eram uma espécie de treino para o parto. Na verdade, resultam das contrações do útero para eliminar o endométrio, um processo natural, que pode ser mais intenso nos primeiros anos de menstruação. “O ciclo menstrual é o corpo a falhar para perceber como fazer melhor”.

O que é um ciclo saudável?

Uma menstruação saudável dura entre dois e sete dias, com sangramento fluido, vermelho vivo e sem coágulos. Quando o sangue é muito escuro, alaranjado ou rosado, pode indicar desequilíbrios hormonais, infeções ou falta de nutrientes.

“Pouco sangue pode estar ligado à falta de ferro ou a problemas de vascularização”, explica Patrícia. “É o corpo a contar-nos uma história sobre como as hormonas se comportaram nesse ciclo”. Contudo, nem todas as alterações são normais. Endometriose e síndrome dos ovários poliquísticos são duas condições frequentes, mas muitas vezes desvalorizadas.

A endometriose ocorre quando células do endométrio (camada interna que reveste as paredes do útero) crescem fora do útero, podendo atingir a bexiga, o intestino ou até o pulmão. Já os ovários poliquísticos são uma disfunção metabólica e hormonal, que pode estar relacionada com resistência à insulina e excesso de hormonas masculinas. Ambas requerem diagnóstico médico especializado.

Sobre as aplicações de monitorização menstrual, Patrícia Lemos diz serem uma ajuda tremenda, desde que sirvam para observar o corpo, não controlá-lo. Registar a temperatura basal (temperatura mais baixo que o corpo alcança em repouso), a textura do muco cervical e o padrão das secreções vaginais permite perceber em que fase do ciclo se está e identificar alterações. A educadora menstrual explica também que o hábito de chamar “corrimento” é errado.

Tensão Pré-Menstrual (TPM) e o impacto emocional

Na fase pós-ovulatória, a progesterona aumenta e o corpo pede pausa. “É natural sentir mais necessidade de descanso, mas a vida continua e surge irritação. A alimentação e o sono são fundamentais para suavizar estes sintomas”, explica.

A tensão pré-menstrual (TPM) pode incluir inchaço, alterações de humor, fome emocional ou cansaço. Nos casos mais severos, pode tratar-se de perturbação disfórica pré-menstrual, uma condição de saúde mental que exige acompanhamento especializado entre psiquiatria e terapia cognitivo-comportamental.

Para a educadora, o ciclo menstrual deve ser encarado como um aliado, não um incómodo. “Durante cerca de 40 anos de vida, o ciclo é a tua bússola”. A especialista acrescenta que também indica quando estás mais energética, criativa, intuitiva ou introspectiva.

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