A revelação de uma chamada entre Steve Witkoff, enviado especial de Donald Trump, e Yuri Ushakov, assistente presidencial e conselheiro de política externa, abriu um novo capítulo na diplomacia paralela que envolve Washington, Moscovo e Kiev. A conversa, divulgada pela “Bloomberg”, mostra o ex-empresário norte-americano a aconselhar diretamente o Kremlin sobre a forma mais eficaz de abordar Trump no momento em que a Casa Branca tenta redesenhar o tabuleiro da guerra na Ucrânia.
Na transcrição publicada, datada de 14 de outubro, Witkoff sugere que Putin telefone a Trump para o felicitar pelo plano para a Faixa de Gaza — um gesto que, segundo o enviado, ajudaria a preparar o terreno para um acordo semelhante na Ucrânia. A chamada, recomendava Witkoff, deveria ocorrer antes da chegada de Volodymyr Zelensky a Washington. Moscovo alinhou. O telefonema aconteceu a 16 de outubro, com Trump a declarar, depois, que tinha havido “grandes progressos”.
Dias mais tarde, os EUA avançaram com uma proposta de paz para a Ucrânia que, na versão inicial, continha várias concessões a Moscovo. A reação em Kiev e nas capitais europeias foi imediata, forçando uma revisão do documento. Washington apresentou então uma versão “significativamente melhor” para os interesses ucranianos — e é esse novo texto que Witkoff deverá discutir pessoalmente com Putin em Moscovo, acompanhado pelo secretário do Exército, Dan Driscoll.
Trump exibiu controlo do processo, garantindo que acompanha cada passo ao lado de JD Vance, Marco Rubio, Pete Hegseth e Susie Wiles. O próprio Zelensky recebeu um ultimato: responder ao plano até 27 de novembro. O prazo desencadeou contactos frenéticos entre Kiev, Bruxelas, Berlim e Washington. No final, norte-americanos e ucranianos convergiram no ponto de partida: qualquer acordo de paz terá de salvaguardar a soberania plena da Ucrânia.
Ainda assim, o Kremlin mantém-se à espera. Sergei Lavrov afirmou que Moscovo aguarda a versão final da proposta dos EUA. Em Kiev, a prioridade é agora garantir uma visita de Zelensky a Washington já em novembro, na esperança de fechar um entendimento que possa transformar uma guerra de desgaste no início de negociações de paz Ucrânia.