O crédito para financiar a compra de casa cresceu, em Junho, ao ritmo mais alto desde o Verão de 2008, o mês que antecedeu a queda do norte-americano Lehman Brothers e que é um dos grandes símbolos da crise financeira mundial daquela altura. A cadência do crédito à habitação em Portugal é tão inédita, que há nove meses é mais de três vezes superior ao da zona euro — e a distância tem vindo a aumentar de forma significativa.

Em Junho, os bancos tinham 160,3 mil milhões de euros em carteira de créditos à habitação concedidos, mais 1,5% do que tinham dado em Maio. “Em comparação com o mês homólogo, manteve-se a trajectória de aceleração com um crescimento de 7,3%, o mais elevado desde Agosto de 2008”, segundo o comunicado publicado esta sexta-feira, 25 de Julho, pelo Banco de Portugal, entidade que agrega estes dados.

Esta “trajectória de aceleração”, como menciona o supervisor bancário, vem de há largos meses. Há 12 meses seguidos — desde Junho de 2024 — que o volume de crédito em carteira vai aumentando mais do que o crescimento registado no mês anterior. Se em Junho de 2024 o avanço foi de 0,1%, em Junho de 2025 passou para 7,3%.

Com juros mais baixos ditados pelo Banco Central Europeu, a procura foi aumentando, como ainda há dias confirmou uma outra publicação do Banco de Portugal. Só que, no Verão de 2024, entraram duas medidas em vigor em Portugal que viriam a contribuir para a escalada na busca por um crédito, como também tem dito o supervisor: a isenção de IMT e de Imposto do Selo para jovens até 35 anos, bem como a garantia pública de que esta faixa etária pode beneficiar para conseguir crédito a 100%.

Aliando o novo crédito aos empréstimos já em carteira, o volume está a aumentar a níveis pouco habituais, e que superam em muito o que se vê nos países da zona euro.

É desde Outubro de 2024 que se verifica uma rara tendência comparativa: o ritmo de crescimento do volume de crédito à habitação em Portugal (pelo menos) triplica aquela que é a expansão verificada na zona euro. Nesse mês de Outubro, o ritmo foi de 2,2% em Portugal e 0,4% na média do euro. Em Junho de 2025, os 7,3% nacionais comparam com os 2,1% do euro.

Esta é uma inversão de comportamento face ao histórico mais recente: a tendência de crescimento costuma ser maior na zona euro e assim foi entre o início de 2011 (quando a banca portuguesa se viu obrigada a fechar a torneira de crédito devido à crise da dívida) até Julho de 2024. Em Agosto, deu-se a tal inversão.

Ou seja, há 11 meses que Portugal supera o eurosistema, há nove (desde Outubro) que pelo menos triplica esse ritmo.

Distância face a zona euro aumenta

E o que se tem verificado com o passar dos tempos é um afastamento dos dois indicadores de ritmo de crescimento do stock de carteira de empréstimos à habitação (Portugal e média do euro), graças, sobretudo, ao grande crescimento homólogo português. A diferença de 0,4 pontos em Agosto, em Dezembro já estava nos 2,8 pontos, superou os quatro pontos em Abril e em Junho fixou-se nos 5,2 pontos.

Este ritmo de expansão da carteira bancária de crédito à habitação é tão raro que quase “apanhou” o avanço registado no crédito ao consumo, normalmente dado a variações mais expressivas. O crescimento homólogo do crédito ao consumo foi de 7,4% em Junho deste ano.

O volume vem aumentando nos particulares, mas também nas empresas. Revela o Banco de Portugal, no comunicado publicado, que “o stock de empréstimos concedidos pelos bancos às empresas totalizava 74,2 mil milhões de euros no final de Junho de 2025, mais 1082 milhões do que no final de Maio”. “O crescimento relativamente ao período homólogo foi de 3,6%, o mais elevado desde Janeiro de 2022 e, pelo segundo mês consecutivo, acima da média da área do euro”, indica a mesma nota.