Foi forçada a entrada em pelo menos quatro jazigos-capela em Alhos Vedros (Moita, distrito de Setúbal) e dez cadáveres foram despejados dos caixões diretamente para o chão

O cemitério de Alhos Vedros foi vandalizado durante a madrugada de segunda-feira. Pelo menos quatro jazigos-capela foram arrombados, existindo relatos de campas abertas, caixões partidos e cadáveres espalhados pelo recinto.

O alerta foi dado na manhã de terça-feira por Nuno Pacheco, pároco da Paróquia de São Lourenço de Alhos Vedros, que garante à CNN Portugal que o “processo de identificação está a ser feito pelas autoridades e, em breve, as famílias deverão ter conhecimento”, sendo que estão em causa dez cadáveres.

Após o alerta, elementos da GNR, bombeiros e do Instituto de Medicina Legal dirigiram-se ao cemitério de Alhos Vedros. Ao local foi ainda o bispo de Setúbal, Américo Aguiar, bem como o presidente da Câmara da Moita, Carlos Albino, e a presidente da Junta de Freguesia de Alhos Vedros, Artur Varandas.

O cemitério permanece temporariamente encerrado, com uma corrente e um cadeado à volta do portão principal.

O caso foi descoberto por um dos funcionários da paróquia, que explica que assim que chegou ao posto de trabalho na torre da igreja “viu algo que não era normal”, referindo que viu um caixão “verticalmente encostado à parede”. “Isso levou-me à suspeita de que algo tinha acontecido”, conta Rubens.

O funcionário explica que desceu da torre da igreja em direção ao cemitério para se deparar com “uma coisa que gostaria de nunca ter visto”: “Aquelas pessoas ali, no seu descanso final, tudo misturado e jogado fora. Realmente, puro vandalismo”, relembra visivelmente consternado.

O pároco Nuno Pacheco desmente que tenha existido qualquer desmembramento de cadáveres, mas compreende o mal-entendido: “Quando se retira um cadáver de uma urna e se joga no chão, algumas partes podem efetivamente não continuar coladas ao próprio corpo”, explicando que a entrada foi forçada nos quatro jazigos e os corpos foram despejados dos caixões no chão.

“A profanação de cadáveres tem três significados: a profanação do corpo, o desrespeito pelo cadáver e o desrespeito pelo espaço em que se está. E aqui aconteceram essas coisas, num nível muito elevado e num grau que nunca se tinha encontrado”, explica Nuno Pacheco.

O pároco de Alhos Vedros especula que o objeto do ato de vandalismo tenha sido retirar os bens de valor com que os cadáveres possam ter sido enterrados. “Quando acontece este tipo de situações nos cemitérios, um pouco por todo o país, estão sempre à procura de alguma coisa que se possa recuperar e vender, parece que possa ter sido essa motivação.”

Américo Aguiar manifestou “profunda tristeza” e “consternação” perante o sucedido no cemitério de Alhos Vedros e classificou o ocorrido como um “gesto sacrílego” que atenta contra a dignidade humana, noticia a Agência ECCLESIA.

“Qualquer atentado contra os mortos é também uma ferida aberta no coração dos vivos”, reiterou o bispo de Setúbal, acrescentando que este tipo de atos “fere a memória dos que já partiram e causa sofrimento acrescido às suas famílias”.