O Presidente francês anunciou, esta quinta-feira, um novo modelo de serviço nacional voluntário e “puramente militar” a começar já no próximo Verão. Na base do 27.º Regimento de Artilharia de Montanha em Varces, nos Alpes franceses, Emmanuel Macron sublinhou que este novo modelo “híbrido” se destina a jovens entre os 18 e os 19 anos, uma “juventude com sede de compromisso” e “pronta a levantar-se pela pátria”.

É um modelo criado para “as jovens e os jovens franceses maiores de idade que manifestem o desejo de se voluntariar” para as Forças Armadas durante o Dia da Defesa e Cidadania, obrigatório entre os 16 e os 25 anos, e que funciona em moldes semelhantes ao Dia da Defesa Nacional em Portugal.

O objectivo é que os jovens cumpram um voluntariado de dez meses, “o que corresponde a um ano sabático e se encaixa perfeitamente no percurso dos nossos jovens”, acredita o Presidente francês. Começam com um mês de “formação inicial”, comum a todos os voluntários, a que se segue um período de nove meses destacados numa unidade militar, vivendo uma experiência o mais próxima possível das missões reais das forças armadas, escreve o Le Figaro.

Todo o voluntariado irá acontecer em França: “Não vamos enviar os nossos jovens para a Ucrânia”, diz o Presidente.

Quem se voluntariar recebe cerca de 800 euros por mês, um esforço financeiro “importante” para os cofres do Estado, mas “indispensável”, acredita Macron, que virá da actualização da lei de programação militar que prevê um orçamento suplementar de mais de dois mil milhões de euros. Espera-se que 3000 jovens se inscrevam no Verão de 2026. O objectivo é ter dez mil voluntários até 2030 e 50 mil até 2035.

Não se trata de um serviço militar obrigatório — que terminou em 1996, durante o mandato de Jacques Chirac — que, afirma o chefe de Estado, “não faz sentido” reviver, olhando para umas forças armadas que não têm como “acolher a totalidade de uma classe etária que representa entre 600 mil e 800 mil jovens”. Trata-se, antes de um modelo híbrido, inspirado noutros países europeus, que assentará principalmente em esforço voluntário, mas que abre a hipótese de o Parlamento poder autorizar a convocatória de outros jovens “apenas em caso excepcional”.

A justificação? “Neste mundo de incerteza onde a força tem primazia sobre o direito e a guerra se conjuga no presente, a nossa nação não tem direito ao medo, nem ao pânico, nem à impreparação, nem à divisão”, afirmou Macron. “O medo, aliás, nunca evita o perigo. A única forma de o evitar é estar preparado.”

Alguns partidos já reagiram. Para a deputada Clémence Guetté, da França Insubmissa, se “França não está em guerra”, o serviço militar não deve ser uma “prioridade para a juventude”. Já Sébastien Chenu, da União Nacional, acha que é uma “iniciativa que vai no bom caminho”.

O anúncio de Macron segue-se aos comentários do general Fabien Mandon, responsável pelas Forças Armadas francesas, que, na semana passada, disse que o país precisava da “força de carácter necessária para aceitar o sofrimento para proteger o que somos”, incluindo “aceitar que vamos perder os nossos filhos”. Os comentários causaram polémica, e Macron tentou dissipá-la com este anúncio de um sistema “híbrido”.

Recentemente, outros países anunciaram projectos semelhantes. Em meados de Novembro, a Alemanha também anunciou um “sistema híbrido” de serviço militar voluntário, mas com exames médicos obrigatórios para os homens maiores de idade e uma opção de obrigatoriedade caso o número de voluntários esteja abaixo do desejado​.