Mais de metade das casas à venda nas cidades de Lisboa, Faro e Funchal, que estão entre as mais caras do país para comprar habitação, têm um preço anunciado superior a 500 mil euros. Os números são do Idealista, um dos principais portais de anúncios de casas para venda e arrendamento, que dá conta de que, nos últimos cinco anos, a oferta de habitação com preços inferiores a 200 mil euros em Portugal caiu 73%, enquanto a oferta de habitações que custam mais de meio milhão de euros disparou.
Os dados, divulgados nesta quinta-feira, mostram que a quantidade de casas disponíveis com preços compatíveis com os rendimentos das famílias em Portugal tem vindo a cair de forma significativa. Segundo o Idealista, entre o terceiro trimestre de 2020 e igual período deste ano, o número de casas à venda com preços anunciados inferiores a 200 mil euros caiu 73%, enquanto os anúncios com valores entre os 200 e os 300 mil euros diminuíram em 32%. Já o número de casas com preços entre os 300 e os 400 mil euros aumentou em 4% no período em análise, enquanto o patamar de 400 a 500 mil euros cresceu 37% e os anúncios de casas à venda com preços superiores a 500 mil euros aumentaram em 42% nos últimos cinco anos.
As cidades mais caras do país são, também, aquelas onde o número de casas com preços mais baixos registou as maiores quedas. O Funchal destaca-se, com uma diminuição de 97% no número de casas anunciadas por menos de 200 mil euros, seguindo-se Faro e Lisboa, com quedas de 92% e 91%, respectivamente. Mas é em cidades mais pequenas que se observam os maiores crescimentos de anúncios de casas com preços mais elevados: em Castelo Branco, o número de casas com preços anunciados superiores a 500 mil euros aumentou em 833% durante o período analisado, enquanto em Braga a subida foi de 677% e de 344% em Viseu.
O Idealista não revela o número absoluto de anúncios em cada um destes patamares de preços, mas divulga um outro indicador que ajuda a compreender o agravamento da crise da habitação em Portugal: a proporção de cada patamar de preços em relação ao número total de casas à venda, que mostra que as casas mais acessíveis (com valores de venda inferiores a 200 mil euros) são quase inexistentes nas maiores cidades, onde a maioria das casas custa mais de meio milhão de euros.
O Funchal é a cidade onde este fenómeno é mais evidente: aqui, só 1% dos anúncios publicados no Idealista têm preços inferiores a 200 mil euros, enquanto 3% têm valores anunciados entre os 200 e os 300 mil, 15% entre os 300 e os 400 mil, 16% entre os 400 e os 500 mil e 66% com preços superiores a 500 mil euros.
A distribuição é idêntica em Lisboa e em Faro, onde, em ambos os casos, 63% das casas têm preços anunciados superiores a 500 mil euros e apenas 2% e 3%, respectivamente, têm valores inferiores a 200 mil euros.
O Porto surge como a quarta cidade com menor número de casas com preços acessíveis, com apenas 5% dos anúncios a terem valores inferiores a 200 mil euros, mas apenas 35% das casas aqui anunciadas têm preços superiores a 500 mil euros. Nesta cidade, a maioria das casas tem preços nos patamares intermédios.
Já Guarda, Portalegre e Castelo Branco apresentam-se como as cidades mais acessíveis para comprar casa. Em todos os casos, a proporção de habitações à venda com preços inferiores a 200 mil euros ronda os 70%, enquanto a percentagem de casas com preços anunciados superiores a 500 mil euros fica abaixo de 10%.