BIEL ALINO/EPA

Porque Mazó não atendeu os telefonemas ao final do dia? Nem em caso de emergência. Almoço com jornalista levanta questões.
Há pouco mais de um ano, Valência viveu um dos piores dias de sempre. As inundações destruíram boa parte da cidade.
A Depressão Isolada a Níveis Altos – DANA matou mais de 200 pessoas; mais de 300 mil foram afetadas.
Mas muito tem sido investigado à volta deste dilúvio. Logo no próprio dia se percebeu que, apesar de a Agência Nacional de Meteorologia de Espanha ter acionado um aviso vermelho de chuvas desde as 7h da manhã para a região de Valência, só às 20h11 os habitantes locais receberam um alerta da proteção civil – quando a maioria das vítimas já teria falecido.
As investigações prosseguiram e apontam para um alvo principal: as instituições do governo local, a Generalitat valenciana. A conselheira de Justiça e Interior, Salomé Pradas, recusou enviar o alerta por SMS, mal recebeu a indicação dos técnicos; preferiu esperar pela chegada de Carlos Mazón, presidente da Generalitat – que chegou já ao início da noite (tinha passado a tarde num restaurante).
E mesmo esse almoço levanta questões; a cronologia à sua volta deixa dúvidas.
O El País avisa que a cronologia oficial da DANA não bate certo com esse encontro entre Mazón e uma jornalista, num restaurante.
O então presidente da Generalitat, Carlos Mazón, esteve nesse dia a almoçar com a jornalista Maribel Vilaplana, numa sala reservada do restaurante El Ventorro.
Foram quase quatro horas: das 15h às 18h45. Sempre lá dentro, enquanto boa parte da cidade entrava num caos.
A fatura apresentada à mesa não encaixa na versão oficial: 165 euros por “dois menus fixos” – a versão inicial falava de uma refeição informal, apenas com entradas e alguns copos de vinho.
A juíza que pediu a fatura ao restaurante justificou o pedido: necessidade de saber “a extensão da festa”.
Outra dúvida: a versão oficial indicava que o encontro acabou antes das 19h – mas o bilhete do parque de estacionamento mostra que a jornalista só saiu com o seu carro às 19h47.
Ou seja, naquele período, e se o almoço já tinha acabado, porque Carlos Mazón (presidente da Generalitat) não atendeu as chamadas? Incluindo chamadas com código de emergência interno.
Mazón já se demitiu. A tomada de posse do sucessor Juanfran Pérez Llorca ocorre precisamente nesta quinta-feira.