As autoridades espanholas voltaram a interrogar, na passada semana, António da Silva, o principal suspeito do assassinato da mulher, María Trinidad Suardíaz, então com 25 anos, e da filha de 13 meses, Beatriz, em 1987, nas Astúrias.
Contudo, tal como ao longo de toda a investigação ao duplo homicídio, cometido há 38 anos, El portugués, como ficou conhecido em Espanha, recusou-se a cooperar com as autoridades.
Apesar da sua avançada idade – 81 anos – e do seu estado de saúde, António continua firme na sua posição. “Não confirmo nem desminto”, foi tudo o que disse à Polícia Nacional, segundo o jornal La Sexta, e em francês, língua do país onde viveu durante muitos anos.
O interrogatório, que deixou os inspetores indignados, pela falta de respostas, ocorreu no lar de idosos onde o português vive, em Zamora.
Uma vez que os crimes já prescreveram e que António já não pode ser preso pelo crime, as autoridades pensaram que este poderia confessar o mesmo. Mas estavam errados.
A pista mais recente sugere que o homem matou a mulher que, um ano antes, tinha apresentado queixa contra ele pelo crime de violência doméstica, assim como a filha bebé e colocou os corpos num carro, que depois atirou a um lago de uma antiga mina localizada em Berbes, nas Astúrias.
Vida de crime
António Silva, como lembra, o jornal El Sexta está longe de ser um homem amigável de 81 anos a viver num lar em Zamora. Sempre foi “extremamente violento” e chegou mesmo a ser condenado por vários “crimes”, entre os quais, “agressão sexual e sequestro”.
O português também foi preso em dois países diferentes: França e Suíça. Além disso, ao longo da vida, usou dois nomes – Maurício Ramos e António da Silva – e ficou conhecido por dois apelidos: El Português e Meio-Homem .
António Silva teve duas mulheres. A primeira deixou-o e está viva. A segunda, María Trinidad Suardíaz, que era conhecida por Maritrini, denunciou-o por violência doméstica antes de dar à luz e acabou morta.
Na altura, o português ainda foi detido, mas acabou libertado antes de ir a julgamento, justamente depois de Maritrini ter a filha, escondida num convento de La Guía, em Gijón. Nessa altura, o criminoso convenceu a espanhola a reatar o relacionamento. Ela concordou.
A 15 de julho de 1987, a mulher foi ao Tribunal Provincial de León com a bebé e El Portugués. Lá, foram informados que o julgamento contra o homem estava em curso e que se realizaria depois do verão, a 15 de setembro de 1987.
Saíram do tribunal e a mulher, com quem tinha casado em 1985 e a quem agredia frequentemente, assim como a bebé nunca mais foram vistas. Às autoridades, António Silva afirmou que tinham ido juntos ao Algarve e que se tinham separado.
Dois anos depois, em 1989, foi condenado e preso por outros crimes. Após sair da cadeia, regressou a Portugal. Mas a família de María nunca a esqueceu. Nem as autoridades.
Em 2016, quase 20 anos após o desaparecimento da mulher e da filha, a polícia fez buscas a uma das duas casas onde a família viveu, em Matadeón de los Oteros, em León. E, em 2018, à de Berbes, nas Astúrias.
Nessa mesma altura, o El Portugués foi detido novamente. Passou três dias na prisão, enquanto a casa onde vivia na altura era revistada. Permaneceu em silêncio mais uma vez e foi libertado, por falta de provas.
Regressou então a Portugal e viveu discretamente até há um ano, quando foi localizado em Zamora, a viver como sem-abrigo.
Vários moradores ajudavam diariamente o idoso, de cabelos brancos que vivia na rua, debaixo de uma frágil tenda. Davam-lhe comida e roupas, sem saber que em frente a eles podia estar um frio criminoso.
Alguns, mais compassivos, notificaram os Serviços Sociais da Câmara Municipal. E El Portugués foi resgatado das ruas e internado no lar de idosos onde vive até hoje… e em silêncio.
Só não facilita a vida dos enfermeiros. Segundo o jornal Levante, António “exige ser examinado em primeiro, por exemplo”.
Aguarda-se agora que o lago, onde o GEO (Grupo de Operações Especiais) localizou dois veículos, seja drenado, para perceber se os corpos de Maritrini e Beatriz encontram-se lá.
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